governo federal vai ampliar a oferta de plantas medicinais e fitoterápicos na rede pública. Em dois anos, o número de prefeituras que disponibilizam os produtos pelo SUS (Sistema Único de Saúde) subiu de 116 para 350, chegando a 6,3% dos municípios em 2008. A ideia agora é ampliar o número de cidades e a variedade de substâncias disponíveis.
Em dezembro de 2008, foi aprovado o programa nacional de plantas medicinais e fitoterápicos, coordenado pelo Ministério da Saúde. Ele prevê a destinação de verbas para o setor e a ampliação da lista de produtos que poderão ser pagos com recursos federais.
O governo estima que ao menos 200 plantas medicinais nativas tenham potencial de uso no SUS, mas só dois fitoterápicos, feitos a partir do guaco e da espinheira-santa, estão na lista de medicamentos comprados com a verba do ministério.
Experiências locais
Em cidades como Cuiabá (MT), que tem um programa municipal, ao menos 20 plantas já são utilizadas, como a babosa, a erva-cidreira e o alho. Elas não podem, porém, ser adquiridas com a verba repassada pela União, já que não constam da lista de referência do ministério. Com a iniciativa federal, gestores do SUS esperam contar com mais medicamentos a partir deste ano.
Segundo Isanete Bieski, supervisora do Programa Municipal de Plantas Medicinais e Fitoterapia, da Secretaria da Saúde de Cuiabá, a redução dos gastos pode chegar a 80% em relação à compra de medicamentos convencionais. Na cidade, moradores recebem medicamentos e são orientados a adaptar, em casa, hortas com plantas medicinais.
"Com a aprovação do programa, haverá mais incentivos à implantação ou adequação de farmácias públicas de manipulação de fitoterápicos para atender às realidades regionais. Esses programas vão receber verbas de fomento federais."
O governo também estuda desonerar a produção das plantas e destinar mais verbas à pesquisa e ao desenvolvimento de tecnologia para o setor. A ideia é que a produção seja feita principalmente na agricultura familiar. Embora a lista de fitoterápicos aumente, não está previsto um incremento do orçamento para a compra de medicamentos pelos municípios, de R$ 7,10 por habitante, em verbas federais, estaduais e municipais, a cada ano.
Segurança
O Ministério da Saúde garante a segurança das plantas medicinais e fitoterápicos que serão distribuídos. "O fitoterápico é eficaz, embora tenha riscos como qualquer outro [medicamento], e tem que seguir as regras que a Anvisa [Agência Nacional de Vigilância Sanitária] exige", diz José Miguel do Nascimento Júnior, diretor do Departamento de Assistência Farmacêutica da pasta.
Roberto D'Ávila, vice-presidente do Conselho Federal de Medicina, diz não se opor ao uso de fitoterápicos, desde que a segurança e eficácia tenham sido comprovadas.
É a mesma opinião de Rosany Bochner, coordenadora do Sinitox (Sistema Nacional de Informações Tóxico-Farmacológicas), da Fiocruz. Ela ressalta que os medicamentos à base de plantas também têm efeitos colaterais, por isso é preciso ficar atento à bula. "É muito presente na população essa ideia de que, porque é natural, não faz mal", afirma.
(Fonte: Folha de São Paulo, 2009)
sábado, 28 de fevereiro de 2009
Contato com limão seguido de exposição ao sol pode levar a queimaduras de segundo grau
A combinação de frutas cítricas e sol pode ter resultados desagradáveis, que vão de manchas na pele a queimaduras de segundo grau. No verão, são mais frequentes os casos de fitofotodermatose --termo médico para a inflamação da pele provocada pela reação de compostos chamados furocumarínicos à radiação solar.
Presente nas cascas de cítricos como limão e laranja, em frutos não maduros como morangos e figos, e em outros vegetais, essa substância, na presença de sol, gera uma irritação que se manifesta pelo aumento de pigmentação no local de contato, causando manchas.
SXC
Após o contato do limão com a pele sob o sol, a reação é desencadeada depois de uma média de 30 minutos de exposição
A lesão ocorre quando há contato com a polpa e com a casca de frutas cítricas --onde está a maior concentração dos compostos que causam a reação-- seguida de exposição ao sol, sem antes lavar bem as mãos.
Segundo Jayme de Oliveira Filho, dermatologista do Hospital das Clínicas da Universidade de São Paulo, a maioria das lesões é causada por frutos cítricos, principalmente o limão.
Também há lesões graves provocadas por contato com o figo verde e suas folhas --usadas em receitas caseiras de bronzeadores, elas contêm alta concentração de furocumarínicos.
Oliveira Filho explica que a lesão nem sempre resulta em queimadura grave, mas gera uma mancha. "A maioria das pessoas não nota na hora. Normalmente, depois de 24 horas [após a exposição]."
A intensidade da lesão pode variar conforme a quantidade de substância com que se teve contato, com o tempo de exposição ao sol e com a suscetibilidade da pele.
"Essa não é uma reação alérgica. Cem por cento das pessoas que tiverem contato com a substância e se expuserem ao sol terão reação de fotoxicidade. Algumas evoluem para queimadura de segundo grau", diz Flávia Addor, membro do Departamento de Cosmiatria da Sociedade Brasileira de Dermatologia.
Remédio e prevenção
A reação é desencadeada após uma média de 30 minutos de exposição ao sol. Na maioria dos casos, constata-se uma mancha vermelha um dia após o contato, que pode ser acompanhada ou não por sensação de ardor ou coceira, e podem surgir bolhas no segundo dia.
Horas ou dias depois, a área fica ainda mais vermelha, as cascas das bolhas secam e começam a se soltar. No geral, as cicatrizes não são permanentes.
É recomendável procurar um médico após o acidente, mas é melhor prevenir a lesão, evitando manusear frutas cítricas sob o sol. Se o fizer, utilize um espremedor ou luvas.
Após contato com os vegetais citados, deve-se lavar bem as mãos, com água e sabonete. Se precisar sair ao ar livre durante o dia --o ideal é não fazê-lo durante ao menos cinco horas após manusear as frutas, de acordo com Oliveira-- use bloqueador solar. Também é importante não tocar outras partes do corpo antes de se lavar. (Fonte: Folha de São Paulo, 13/02/2009)
Presente nas cascas de cítricos como limão e laranja, em frutos não maduros como morangos e figos, e em outros vegetais, essa substância, na presença de sol, gera uma irritação que se manifesta pelo aumento de pigmentação no local de contato, causando manchas.
SXC
Após o contato do limão com a pele sob o sol, a reação é desencadeada depois de uma média de 30 minutos de exposição
A lesão ocorre quando há contato com a polpa e com a casca de frutas cítricas --onde está a maior concentração dos compostos que causam a reação-- seguida de exposição ao sol, sem antes lavar bem as mãos.
Segundo Jayme de Oliveira Filho, dermatologista do Hospital das Clínicas da Universidade de São Paulo, a maioria das lesões é causada por frutos cítricos, principalmente o limão.
Também há lesões graves provocadas por contato com o figo verde e suas folhas --usadas em receitas caseiras de bronzeadores, elas contêm alta concentração de furocumarínicos.
Oliveira Filho explica que a lesão nem sempre resulta em queimadura grave, mas gera uma mancha. "A maioria das pessoas não nota na hora. Normalmente, depois de 24 horas [após a exposição]."
A intensidade da lesão pode variar conforme a quantidade de substância com que se teve contato, com o tempo de exposição ao sol e com a suscetibilidade da pele.
"Essa não é uma reação alérgica. Cem por cento das pessoas que tiverem contato com a substância e se expuserem ao sol terão reação de fotoxicidade. Algumas evoluem para queimadura de segundo grau", diz Flávia Addor, membro do Departamento de Cosmiatria da Sociedade Brasileira de Dermatologia.
Remédio e prevenção
A reação é desencadeada após uma média de 30 minutos de exposição ao sol. Na maioria dos casos, constata-se uma mancha vermelha um dia após o contato, que pode ser acompanhada ou não por sensação de ardor ou coceira, e podem surgir bolhas no segundo dia.
Horas ou dias depois, a área fica ainda mais vermelha, as cascas das bolhas secam e começam a se soltar. No geral, as cicatrizes não são permanentes.
É recomendável procurar um médico após o acidente, mas é melhor prevenir a lesão, evitando manusear frutas cítricas sob o sol. Se o fizer, utilize um espremedor ou luvas.
Após contato com os vegetais citados, deve-se lavar bem as mãos, com água e sabonete. Se precisar sair ao ar livre durante o dia --o ideal é não fazê-lo durante ao menos cinco horas após manusear as frutas, de acordo com Oliveira-- use bloqueador solar. Também é importante não tocar outras partes do corpo antes de se lavar. (Fonte: Folha de São Paulo, 13/02/2009)
Hortelã estimula aparelho digestivo e tem propriedades anestésicas
Famosa por enfeitar pratos e dar um sabor extra à comida, a hortelã tem mais um motivo para estar sempre na geladeira de casa: possui propriedades terapêuticas que dão à erva status de planta medicinal.
"A hortelã estimula o aparelho digestivo e tem também propriedades anestésicas", afirma Dan Linetzky Waitzberg, médico nutrólogo do Hospital Santa Catarina. Segundo ele, para obter uma infusão com efeito antiespasmódico, basta ferver 3 g de hortelã em 100 ml por não mais de cinco minutos. "O chá combate dores de barriga e prisão de ventre."
A hortelã também pode servir para emplastros anestesiantes por conta do mentol, substância presente na erva que dá a sensação de refrescância. "Folhas amassadas da erva podem ser colocadas em cima de picadas de inseto, por exemplo", diz.
Além disso, a hortelã é rica em vitaminas C e A, cálcio e ferro. "A vitamina C é um antioxidante poderoso e ajuda a sintetizar o colágeno. A vitamina A faz bem para a pele, os cabelos e os ossos. O cálcio atua na formação de ossos e dentes, e o ferro faz bem para o sangue", observa Silvia Barreto Nogueira, professora de nutrição do Senac-SP.
No entanto, não adianta achar que o consumo de hortelã vai suprir as necessidades desses nutrientes. "A erva pode ser usada apenas como complemento nutricional, pois uma quantidade muito pequena dela é usada no preparo dos alimentos", pontua Silvia.
Mesmo não sendo considerada fonte de nutrientes, a hortelã pode e deve ser usada na cozinha à vontade. "O sabor e o aroma marcantes dão muita personalidade aos pratos. Assim, esse lado gastronômico da erva deve ser explorado. A hortelã pode ser usada em molhos, saladas e sucos e como tempero de carnes", diz Silvia.
(FONTE: Folha de São Paulo, 18/06/2008)
"A hortelã estimula o aparelho digestivo e tem também propriedades anestésicas", afirma Dan Linetzky Waitzberg, médico nutrólogo do Hospital Santa Catarina. Segundo ele, para obter uma infusão com efeito antiespasmódico, basta ferver 3 g de hortelã em 100 ml por não mais de cinco minutos. "O chá combate dores de barriga e prisão de ventre."
A hortelã também pode servir para emplastros anestesiantes por conta do mentol, substância presente na erva que dá a sensação de refrescância. "Folhas amassadas da erva podem ser colocadas em cima de picadas de inseto, por exemplo", diz.
Além disso, a hortelã é rica em vitaminas C e A, cálcio e ferro. "A vitamina C é um antioxidante poderoso e ajuda a sintetizar o colágeno. A vitamina A faz bem para a pele, os cabelos e os ossos. O cálcio atua na formação de ossos e dentes, e o ferro faz bem para o sangue", observa Silvia Barreto Nogueira, professora de nutrição do Senac-SP.
No entanto, não adianta achar que o consumo de hortelã vai suprir as necessidades desses nutrientes. "A erva pode ser usada apenas como complemento nutricional, pois uma quantidade muito pequena dela é usada no preparo dos alimentos", pontua Silvia.
Mesmo não sendo considerada fonte de nutrientes, a hortelã pode e deve ser usada na cozinha à vontade. "O sabor e o aroma marcantes dão muita personalidade aos pratos. Assim, esse lado gastronômico da erva deve ser explorado. A hortelã pode ser usada em molhos, saladas e sucos e como tempero de carnes", diz Silvia.
(FONTE: Folha de São Paulo, 18/06/2008)
Doença de boto revela poluição do mar
Quando começou a monitorar a população de botos marinhos de Paranaguá, norte do Paraná, em 2006, o biólogo Marcos de Oliveira Santos ficou intrigado: as fotografias que fazia para identificar os animais vira e mexe revelavam extensas feridas na pele. Em uma década fotografando esses golfinhos tímidos no estuário de Cananeia, sul de São Paulo, a apenas 60 km dali, Santos nunca havia visto nada parecido.
A partir de 2007, o pesquisador levou suas imagens para a veterinária holandesa Marie-Françoise Van Bressem, do Centro de Pesquisa de Cetáceos do Peru. Ela matou a charada: as lesões observadas por Santos eram um tipo de micose, provavelmente causado por poluição da água.
Os candidatos não podiam ser mais óbvios: primeiro, os botos de Paranaguá vivem na vizinhança do segundo maior porto do Brasil, que gera não só contaminação por óleo e outros materiais como também por água de lastro de navios, que pode trazer micróbios de longe.
Mas outro fator pode estar por trás da doença dos botos: a instalação de uma fazenda de camarão em Paranaguá em 2006.
A carcinicultura tem pipocado por diversas partes do litoral brasileiro, frequentemente em áreas habitadas por mamíferos marinhos. Se ela realmente estiver ligada à epidemia, isso é uma má notícia para botos e golfinhos de toda a costa, incluindo a paulista.
"No Lagamar [região de estuário de 507 quilômetros quadrados entre São Paulo e Paraná] fecha uma e abre outra", disse Santos à Folha, sobre as fazendas de camarão. "O Ibama diz que não há, mas a gente sabe que não tem fiscalização, não tem gente, não tem barco, não tem carro."
Ainda não se sabe a real extensão da epidemia, nem sua gravidade. Santos detectou lesões na pele de 17% dos botos (Sotalia guianensis) fotoidentificados em Paranaguá. A julgar pelo tamanho das feridas --algumas com até 25 centímetros de extensão, no dorso dos animais--, o agente causador da infecção, provavelmente um fungo, deveria estar circulando na população por meses.
"A gente não tem ideia do grau de contaminação e do estado de saúde dos bichos de lá", afirma o pesquisador da Unesp, hoje na Universidade do Vale do Rio dos Sinos, no Rio Grande do Sul. Van Bressem tem "colecionado" casos de doenças de pele entre cetáceos em toda a América do Sul, e seus estudos indicam que as micoses podem acelerar outros fatores que matam os animais.
Estudos anteriores da pesquisadora holandesa também sugerem a relação entre o surgimento de micoses entre golfinhos e poluição. Em pelo menos um caso, em Guayaquil, Equador, a presença de fazendas de camarão era a fonte de poluentes responsável.
"Sabe-se que a aquacultura, especialmente as criações de salmão e camarões, usa pesadamente antibióticos profiláticos que podem alterar a fauna normal da pele e criar um ambiente adequado para a invasão dos fungos", escrevem Van Bressem, Santos e colegas em um artigo descrevendo a epidemia em Paranaguá, recém-publicado no periódico "Marine Environmental Research".
A ausência de portos e de carcinicultura (por enquanto) no estuário de Cananeia, uma área protegida, explicaria a virtual ausência de doenças de pele entre os botos dali.
Bioindicador
O trabalho de Van Bressem, Santos e outros cientistas tem mostrado que os pequenos cetáceos, como os golfinhos e os botos, são indicadores eficazes da qualidade da água. E, como são predadores que ocupam o topo da cadeia alimentar, podem dar pistas sobre a saúde de todo o ecossistema.
O próprio Santos já mostrou o potencial de bioindicador dos botos de Cananeia, população que ele acompanha desde 1996. Em 2003, ele e colegas publicaram no periódico "The Science of Total Environment" resultados de biópsia mostrando que os animais estavam acumulando pequenas quantidades de DDT em sua camada de gordura. O DDT é um veneno da classe dos organoclorados, banido no Brasil nos anos 1980.
Sua aparição entre os botos de Cananeia sugere que fazendeiros do Vale do Ribeira continuam usando a substância.
O pesquisador paulista se diz preocupado com a possibilidade de a epidemia em Paranaguá se alastrar por Cananeia. "Assusta um pouco, porque não sabemos o quanto essas populações estão em contato." Até agora, somente um indivíduo de Cananeia foi visto em Paranaguá, mas a comunicação no estuário do Lagamar é grande e pode haver constante fluxo genético entre as populações. "É o que queremos descobrir."
Este é só mais um mistério da vida dos botos marinhos. Arredios e sem o carisma do golfinho-nariz-de-garrafa (Tursiops truncatus), esses animais ainda são virtualmente desconhecidos pelos cientistas. Até 1993, não havia nenhum trabalho de fotoidentificação desses animais, e somente em 2005 uma análise de DNA revelou que eles são uma espécie separada do boto tucuxi da Amazônia. O boto de rio ficou com o nome Sotalia fluviatilis, que até então era aplicado ao boto marinho.
(Fonte: CLAUDIO ANGELO, Folha de S.Paulo 25/02/2009)
A partir de 2007, o pesquisador levou suas imagens para a veterinária holandesa Marie-Françoise Van Bressem, do Centro de Pesquisa de Cetáceos do Peru. Ela matou a charada: as lesões observadas por Santos eram um tipo de micose, provavelmente causado por poluição da água.
Os candidatos não podiam ser mais óbvios: primeiro, os botos de Paranaguá vivem na vizinhança do segundo maior porto do Brasil, que gera não só contaminação por óleo e outros materiais como também por água de lastro de navios, que pode trazer micróbios de longe.
Mas outro fator pode estar por trás da doença dos botos: a instalação de uma fazenda de camarão em Paranaguá em 2006.
A carcinicultura tem pipocado por diversas partes do litoral brasileiro, frequentemente em áreas habitadas por mamíferos marinhos. Se ela realmente estiver ligada à epidemia, isso é uma má notícia para botos e golfinhos de toda a costa, incluindo a paulista.
"No Lagamar [região de estuário de 507 quilômetros quadrados entre São Paulo e Paraná] fecha uma e abre outra", disse Santos à Folha, sobre as fazendas de camarão. "O Ibama diz que não há, mas a gente sabe que não tem fiscalização, não tem gente, não tem barco, não tem carro."
Ainda não se sabe a real extensão da epidemia, nem sua gravidade. Santos detectou lesões na pele de 17% dos botos (Sotalia guianensis) fotoidentificados em Paranaguá. A julgar pelo tamanho das feridas --algumas com até 25 centímetros de extensão, no dorso dos animais--, o agente causador da infecção, provavelmente um fungo, deveria estar circulando na população por meses.
"A gente não tem ideia do grau de contaminação e do estado de saúde dos bichos de lá", afirma o pesquisador da Unesp, hoje na Universidade do Vale do Rio dos Sinos, no Rio Grande do Sul. Van Bressem tem "colecionado" casos de doenças de pele entre cetáceos em toda a América do Sul, e seus estudos indicam que as micoses podem acelerar outros fatores que matam os animais.
Estudos anteriores da pesquisadora holandesa também sugerem a relação entre o surgimento de micoses entre golfinhos e poluição. Em pelo menos um caso, em Guayaquil, Equador, a presença de fazendas de camarão era a fonte de poluentes responsável.
"Sabe-se que a aquacultura, especialmente as criações de salmão e camarões, usa pesadamente antibióticos profiláticos que podem alterar a fauna normal da pele e criar um ambiente adequado para a invasão dos fungos", escrevem Van Bressem, Santos e colegas em um artigo descrevendo a epidemia em Paranaguá, recém-publicado no periódico "Marine Environmental Research".
A ausência de portos e de carcinicultura (por enquanto) no estuário de Cananeia, uma área protegida, explicaria a virtual ausência de doenças de pele entre os botos dali.
Bioindicador
O trabalho de Van Bressem, Santos e outros cientistas tem mostrado que os pequenos cetáceos, como os golfinhos e os botos, são indicadores eficazes da qualidade da água. E, como são predadores que ocupam o topo da cadeia alimentar, podem dar pistas sobre a saúde de todo o ecossistema.
O próprio Santos já mostrou o potencial de bioindicador dos botos de Cananeia, população que ele acompanha desde 1996. Em 2003, ele e colegas publicaram no periódico "The Science of Total Environment" resultados de biópsia mostrando que os animais estavam acumulando pequenas quantidades de DDT em sua camada de gordura. O DDT é um veneno da classe dos organoclorados, banido no Brasil nos anos 1980.
Sua aparição entre os botos de Cananeia sugere que fazendeiros do Vale do Ribeira continuam usando a substância.
O pesquisador paulista se diz preocupado com a possibilidade de a epidemia em Paranaguá se alastrar por Cananeia. "Assusta um pouco, porque não sabemos o quanto essas populações estão em contato." Até agora, somente um indivíduo de Cananeia foi visto em Paranaguá, mas a comunicação no estuário do Lagamar é grande e pode haver constante fluxo genético entre as populações. "É o que queremos descobrir."
Este é só mais um mistério da vida dos botos marinhos. Arredios e sem o carisma do golfinho-nariz-de-garrafa (Tursiops truncatus), esses animais ainda são virtualmente desconhecidos pelos cientistas. Até 1993, não havia nenhum trabalho de fotoidentificação desses animais, e somente em 2005 uma análise de DNA revelou que eles são uma espécie separada do boto tucuxi da Amazônia. O boto de rio ficou com o nome Sotalia fluviatilis, que até então era aplicado ao boto marinho.
(Fonte: CLAUDIO ANGELO, Folha de S.Paulo 25/02/2009)
Governo lista plantas que poderão virar fitoterápicos
O Ministério da Saúde divulgou uma lista com 71 plantas medicinais que poderão ser usadas como medicamentos fitoterápicos pelo SUS (Sistema Único de Saúde).
A ideia é que a relação sirva de base para uma ampliação do número de fitoterápicos que hoje são financiados com verba federal. Atualmente, só dois, feitos à base de guaco (para tosse) e espinheira-santa (para úlcera e gastrite), são bancados pela pasta. A previsão é chegar a oito até o final do ano.
Confira a relação abaixo:
Achillea millefolium
nome popular: Mil-folhas, Dipirona
uso:combate úlceras, feridas, analgesica
Allium sativum
nome popular: Alho
uso: Anti-séptico, Antiiflamatório e Anti-hipertensivo
Aloe spp (A. vera ou A. barbadensis)
nome popular: Babosa, áloes
uso: combate caspa, calvíce e é antisseptico, tira lendia de piolhos e é cicatrizante
Alpinia spp (A. zerumbet ou A. speciosa)
nome popular: Colônia
Uso: Anti-hipertensivo
Anacardium occidentale
nome popular: Caju
uso:Antisseptico e cicatrizante
Ananas comosus
Nome popular: Abacaxi
Uso: mucolítica e fluidificante das secreções e das vias aéreas superiores.
Apuleia ferrea = Caesalpinia ferrea
Nome popular: Jucá, pau-ferroverdadeiro, ibirá-obi
Uso: Infecção catarral, garganta, gota, cicatrizante
Localização: Centro Oeste e Mato Grosso
Arrabidaea chica
nome popular: Crajirú, carajiru
uso: Afeções da pele em geral (impigens), feridas, Antimicrobiano
Centro Oeste
Artemisia absinthium
Nome popular: Artemísia
Uso: Estômago, fígado, rins, verme (lombriga e oxíuru, giárdia e ameba)
Baccharis trimera
nome popular: Carqueja, carquejaamargosa
Uso: combate feridas e estomáquico
Bauhinia spp (B. affinis, B. forficata ou variegata)
Nome popular: Pata de vaca
Bidens pilosa
nome popular: Picão
uso: combate úlceras
Calendula officinalis
Nome popular: Bonina, calêndula, flor-de-todos-osmales, malmequer
Uso: feridas, úlceras, micoses
Carapa guianensis
nome popular: Andiroba, angiroba, nandiroba
uso: combate úlceras, dermatoses e feridas
Casearia sylvestris
nome popular: Guaçatonga, apiáacanoçu,bugre branco, café-bravo
uso: combate úlceras, feridas, aftas, feridas na boca
Chamomilla recutita = Matricaria chamomilla = Matricaria recutita
nome popular: Camomila
uso: combate dermatites, feridas banais
Chenopodium ambrosioides
nome popular: Mastruz, erva-de-santa- maria, ambrosia, erva-debicho, mastruço, menstrus
uso: Corrimento vaginal, antisseptico local
Copaifera spp
Nome popular: Copaíba
Uso: antiinflamação
Cordia spp (C. curassavica ou C. verbenacea)
Nome popular: Erva baleeira
Uso: Antiiflamatoria
Costus spp (C. scaber ou C. spicatus)
nome popular: Cana-do-brejo
uso: combate leucorréia e infição renal
Croton spp (C. cajucara ou C. zehntneri)
nome popular: Alcanforeira, herva-mular, péde-perdiz
Uso:combate feridas, úlceras
Curcuma longa
nome popular: Açafrão
Cynara scolymus
nome popular: Alcachofra
uso: combate ácido úrico
Dalbergia subcymosa
nome popular: Verônica
uso: Auxiliar no tratamento de inflamações uterinas e da.anemia
Eleutherine plicata
nome popular: Marupa, palmeirinha
uso: Hemorróida, vermífugo
Equisetum arvense
nome popular: cavalinha
uso: diurético
Erythrina mulungu
nome popular: Mulungu
uso: Sistema nervoso em geral
Eucalyptus globulus
nome popular: eucalipto
uso: combate leucorréia
Eugenia uniflora ou Myrtus brasiliana
nome popular: Pitanga
uso: Diarréia
Foeniculum vulgare
nome popular: Funcho
uso: anti-séptico
Glycine max
Nome popular: Soja
Uso: sintomas da menopausa, oesteoporose
Harpagophytum procumbens
Nome popular: garra-do-diabo
Uso: Artrite reumantoide
Jatropha gossypiifolia
nome popular: Peão-roxo, jalopão, batata-de-téu
uso: antisseptico, feridas
Justicia pectoralis
Nome popular: anador
Uso: cortes, afecções nervosas, catarro bronquial
Kalanchoe pinnata = Bryophyllum calycinum
nome popular: Folha-da-fortuna
uso: furúnculos
Lamium album
nome popular: Urtiga-branca
uso: leucorréia
Lippia sidoides
Nome popular: estrepa cavalo, alecrim, alecrim-pimenta
Malva sylvestris
Nome popular: malva, malva-alta, malva-silvestre
Uso: furúnculos
Maytenus spp (M. aquifolium ou M. ilicifolia)
Nome popular: concorosa, combra-de-touro, espinheira-santa, concerosa
Uso: antiséptica em feridas e úlceras
Mentha pulegium
Nome popular: poejo
Mentha spp (M. crispa, M. piperita ou M. villosa)
Nome popular: hortelã-pimenta, hortelã, menta
Mikania spp (M. glomerata ou M. laevigata)
Nome popular: Guaco
Uso: broncodilatador
Momordica charantia
Nome popular: Melão de São Caetano
Morus sp
Nome popular: amora
Ocimum gratissimum
Nome popular: alfavacão, alfavaca-cravo
Orbignya speciosa
Nome popular: babaçu
Passiflora spp (P. alata, P. edulis ou P. incarnata)
Nome popular: maracujá
Uso: calmante
Persea spp (P. gratissima ou P. americana)
Nome popular: abacate
Uso: ácido úrico, prevenir queda de cabelo, anti-caspa
Petroselinum sativum
Nome popular: falsa
Phyllanthus spp (P. amarus, P.niruri, P. tenellus e P. urinaria)
Nome popular: erva-pombinha, quebra-pedra
Plantago major
Nome popular: tanchagem, tanchás
Uso: feridas
Plectranthus barbatus = Coleus barbatus
Nome popular: Boldo
Polygonum spp (P. acre ou P. hydropiperoides)
Nome popular: erva-de-bicho
Uso: corrimentos
Portulaca pilosa
Nome popular: amor-crescido
Uso: feridas, úlceras
Psidium guajava
Nome popular: goiaba
Uso: leucorréia, aftas, úlcera, irritação vaginal
Punica granatum
Nome popular: romeira
Uso: leucorréia
Rhamnus purshiana
Nome popular: cáscara sagrada
Ruta graveolens
Nome popular: arruda
Salix alba
Nome popular: salgueiro branco
Schinus terebinthifolius = Schinus aroeira
Nome popular: araguaíba, aroeira, aroeira-do-rio-grande-do-sul
Uso: feridas e úlceras
Solanum paniculatum
Nome popular: jurubeba
Solidago microglossa
Nome popular: arnica
Uso: contusões
Stryphnodendron adstringens = Stryphnodendron barbatimam
Nome popular: Barbatimão, abaremotemo, casca-da-virgindade
Uso: Leucorréia, feridas, úlceras, corrimento vaginal
Syzygium spp (S. jambolanum ou S. cumini)
Nome popular: jambolão
Tabebuia avellanedeae
Nome popular: ipê-roxo
Tagetes minuta
Nome popular: cravo-de-defunto
Trifolium pratense
Nome popular: trevo vermelho
Uncaria tomentosa
Nome popular: unha-de-gato
Uso: imunoestimulante, antiinflamatório
Vernonia condensata
Nome popular: boldo da Bahia
Vernonia spp (V. ruficoma ou V. polyanthes)
Nome popular: assa-peixe
Zingiber officinale
Nome popular: gengibre
Uso: tosse
Observações: a aplicação medicinal depende da parte da planta utilizada (caule, semente, fruto etc). Fontes: Ministério da Saúde (para os nomes científicos), estudos e Secretaria Municipal de Cuiabá (para nomes populares e usos possíveis)
(Fonte: Folha de S.Paulo, 14/02/2009)
A ideia é que a relação sirva de base para uma ampliação do número de fitoterápicos que hoje são financiados com verba federal. Atualmente, só dois, feitos à base de guaco (para tosse) e espinheira-santa (para úlcera e gastrite), são bancados pela pasta. A previsão é chegar a oito até o final do ano.
Confira a relação abaixo:
Achillea millefolium
nome popular: Mil-folhas, Dipirona
uso:combate úlceras, feridas, analgesica
Allium sativum
nome popular: Alho
uso: Anti-séptico, Antiiflamatório e Anti-hipertensivo
Aloe spp (A. vera ou A. barbadensis)
nome popular: Babosa, áloes
uso: combate caspa, calvíce e é antisseptico, tira lendia de piolhos e é cicatrizante
Alpinia spp (A. zerumbet ou A. speciosa)
nome popular: Colônia
Uso: Anti-hipertensivo
Anacardium occidentale
nome popular: Caju
uso:Antisseptico e cicatrizante
Ananas comosus
Nome popular: Abacaxi
Uso: mucolítica e fluidificante das secreções e das vias aéreas superiores.
Apuleia ferrea = Caesalpinia ferrea
Nome popular: Jucá, pau-ferroverdadeiro, ibirá-obi
Uso: Infecção catarral, garganta, gota, cicatrizante
Localização: Centro Oeste e Mato Grosso
Arrabidaea chica
nome popular: Crajirú, carajiru
uso: Afeções da pele em geral (impigens), feridas, Antimicrobiano
Centro Oeste
Artemisia absinthium
Nome popular: Artemísia
Uso: Estômago, fígado, rins, verme (lombriga e oxíuru, giárdia e ameba)
Baccharis trimera
nome popular: Carqueja, carquejaamargosa
Uso: combate feridas e estomáquico
Bauhinia spp (B. affinis, B. forficata ou variegata)
Nome popular: Pata de vaca
Bidens pilosa
nome popular: Picão
uso: combate úlceras
Calendula officinalis
Nome popular: Bonina, calêndula, flor-de-todos-osmales, malmequer
Uso: feridas, úlceras, micoses
Carapa guianensis
nome popular: Andiroba, angiroba, nandiroba
uso: combate úlceras, dermatoses e feridas
Casearia sylvestris
nome popular: Guaçatonga, apiáacanoçu,bugre branco, café-bravo
uso: combate úlceras, feridas, aftas, feridas na boca
Chamomilla recutita = Matricaria chamomilla = Matricaria recutita
nome popular: Camomila
uso: combate dermatites, feridas banais
Chenopodium ambrosioides
nome popular: Mastruz, erva-de-santa- maria, ambrosia, erva-debicho, mastruço, menstrus
uso: Corrimento vaginal, antisseptico local
Copaifera spp
Nome popular: Copaíba
Uso: antiinflamação
Cordia spp (C. curassavica ou C. verbenacea)
Nome popular: Erva baleeira
Uso: Antiiflamatoria
Costus spp (C. scaber ou C. spicatus)
nome popular: Cana-do-brejo
uso: combate leucorréia e infição renal
Croton spp (C. cajucara ou C. zehntneri)
nome popular: Alcanforeira, herva-mular, péde-perdiz
Uso:combate feridas, úlceras
Curcuma longa
nome popular: Açafrão
Cynara scolymus
nome popular: Alcachofra
uso: combate ácido úrico
Dalbergia subcymosa
nome popular: Verônica
uso: Auxiliar no tratamento de inflamações uterinas e da.anemia
Eleutherine plicata
nome popular: Marupa, palmeirinha
uso: Hemorróida, vermífugo
Equisetum arvense
nome popular: cavalinha
uso: diurético
Erythrina mulungu
nome popular: Mulungu
uso: Sistema nervoso em geral
Eucalyptus globulus
nome popular: eucalipto
uso: combate leucorréia
Eugenia uniflora ou Myrtus brasiliana
nome popular: Pitanga
uso: Diarréia
Foeniculum vulgare
nome popular: Funcho
uso: anti-séptico
Glycine max
Nome popular: Soja
Uso: sintomas da menopausa, oesteoporose
Harpagophytum procumbens
Nome popular: garra-do-diabo
Uso: Artrite reumantoide
Jatropha gossypiifolia
nome popular: Peão-roxo, jalopão, batata-de-téu
uso: antisseptico, feridas
Justicia pectoralis
Nome popular: anador
Uso: cortes, afecções nervosas, catarro bronquial
Kalanchoe pinnata = Bryophyllum calycinum
nome popular: Folha-da-fortuna
uso: furúnculos
Lamium album
nome popular: Urtiga-branca
uso: leucorréia
Lippia sidoides
Nome popular: estrepa cavalo, alecrim, alecrim-pimenta
Malva sylvestris
Nome popular: malva, malva-alta, malva-silvestre
Uso: furúnculos
Maytenus spp (M. aquifolium ou M. ilicifolia)
Nome popular: concorosa, combra-de-touro, espinheira-santa, concerosa
Uso: antiséptica em feridas e úlceras
Mentha pulegium
Nome popular: poejo
Mentha spp (M. crispa, M. piperita ou M. villosa)
Nome popular: hortelã-pimenta, hortelã, menta
Mikania spp (M. glomerata ou M. laevigata)
Nome popular: Guaco
Uso: broncodilatador
Momordica charantia
Nome popular: Melão de São Caetano
Morus sp
Nome popular: amora
Ocimum gratissimum
Nome popular: alfavacão, alfavaca-cravo
Orbignya speciosa
Nome popular: babaçu
Passiflora spp (P. alata, P. edulis ou P. incarnata)
Nome popular: maracujá
Uso: calmante
Persea spp (P. gratissima ou P. americana)
Nome popular: abacate
Uso: ácido úrico, prevenir queda de cabelo, anti-caspa
Petroselinum sativum
Nome popular: falsa
Phyllanthus spp (P. amarus, P.niruri, P. tenellus e P. urinaria)
Nome popular: erva-pombinha, quebra-pedra
Plantago major
Nome popular: tanchagem, tanchás
Uso: feridas
Plectranthus barbatus = Coleus barbatus
Nome popular: Boldo
Polygonum spp (P. acre ou P. hydropiperoides)
Nome popular: erva-de-bicho
Uso: corrimentos
Portulaca pilosa
Nome popular: amor-crescido
Uso: feridas, úlceras
Psidium guajava
Nome popular: goiaba
Uso: leucorréia, aftas, úlcera, irritação vaginal
Punica granatum
Nome popular: romeira
Uso: leucorréia
Rhamnus purshiana
Nome popular: cáscara sagrada
Ruta graveolens
Nome popular: arruda
Salix alba
Nome popular: salgueiro branco
Schinus terebinthifolius = Schinus aroeira
Nome popular: araguaíba, aroeira, aroeira-do-rio-grande-do-sul
Uso: feridas e úlceras
Solanum paniculatum
Nome popular: jurubeba
Solidago microglossa
Nome popular: arnica
Uso: contusões
Stryphnodendron adstringens = Stryphnodendron barbatimam
Nome popular: Barbatimão, abaremotemo, casca-da-virgindade
Uso: Leucorréia, feridas, úlceras, corrimento vaginal
Syzygium spp (S. jambolanum ou S. cumini)
Nome popular: jambolão
Tabebuia avellanedeae
Nome popular: ipê-roxo
Tagetes minuta
Nome popular: cravo-de-defunto
Trifolium pratense
Nome popular: trevo vermelho
Uncaria tomentosa
Nome popular: unha-de-gato
Uso: imunoestimulante, antiinflamatório
Vernonia condensata
Nome popular: boldo da Bahia
Vernonia spp (V. ruficoma ou V. polyanthes)
Nome popular: assa-peixe
Zingiber officinale
Nome popular: gengibre
Uso: tosse
Observações: a aplicação medicinal depende da parte da planta utilizada (caule, semente, fruto etc). Fontes: Ministério da Saúde (para os nomes científicos), estudos e Secretaria Municipal de Cuiabá (para nomes populares e usos possíveis)
(Fonte: Folha de S.Paulo, 14/02/2009)
Grupo acha pegada humana mais antiga
Um grupo de paleontólogos apresentou ontem imagens do registro mais antigo da caminhada de um primata do gênero Homo, o mesmo dos humanos. Cinco conjuntos de pegadas achadas às margens do lago Turkana, em Ileret (Quênia), possuem 1,5 milhão de anos.
Um estudo das marcas feitas em areia e argila solidificadas, apresentado pelos cientistas na edição de hoje da revista científica "Science", indica que provavelmente as pegadas foram deixadas por alguém da espécie Homo erectus. Mas é também possível que quem tenha pisado ali fosse o Homo ergaster, ainda mais primitivo, afirmam os autores do estudo, liderados por Matthew Bennett, da Universidade de Bournemouth.
"A comparação visual [dessa pegada] com os pés de outros primatas vivos ressalta óbvias diferenças", escrevem Robin Crompton e Todd Pataky, ambos da Universidade de Liverpool, em artigo de comentário feito para a própria "Science".
Segundo eles, as pegadas de Ileret servem para ajudar a explicar como o pé humano se tornou uma ferramenta de sobrevivência fundamental para o gênero Homo. Sua anatomia favorecia a vida sobre o chão --e não sobre as árvores-- o que reafirma um sinal distinto de adaptação evolutiva.
Mesmo com a última descoberta, porém, muitas lacunas evolutivas continuam a existir.
Enquanto hominídeos têm dedos curtos, por exemplo, e o dedão é alinhado com os demais, isso não é visto nos pés dos macacos. O mesmo vale para a marca que os pés humanos arqueados deixam sobre uma superfície mole, onde dedos e calcanhar afundam mais.
Toda a anatomia dos pés humanos, dizem os cientistas, é preparada para receber impactos sob os calcanhares e fazer leves impulsões com a parte da frente do pé --algo que qualquer atleta de fim de semana é capaz de perceber na prática.
Com base nas marcas encontradas em Ileret, os cientistas conseguiram reconstruir os pés que fizeram as pegadas e também fazer várias medidas com relação às marcas.
Sapato 39
A descoberta anunciada ontem é o primeiro grande marco nesse tipo de evidência paleontológica desde a apresentação de um conjunto de pegadas em Laetoli, na Tanzânia, há três décadas. Aquelas marcas, porém, com 3,6 milhões de anos, são provavelmente de membros da espécie Australopithecus afarensis, um primata que ainda não possuía muitas das características que afastaram os humanos dos macacos.
Apesar de já indicarem bipedalismo, as marcas de Laetoli apresentavam um arco estreito, e o dedão da espécie ainda não estava alinhado. Já as marcas do gênero Homo em Ileret --que mediam o equivalente a um pé de numeração 39-- se encaixam em dados anatômicos mais modernos.
Segundo Bennett e seus coautores, o surgimento de hominídeos com pernas mais longas foi uma importante alteração evolutiva. Os hominídeos de Ileret tinham cerca de 1,75 metro de altura, mais do que os australopitecos. A passos largos, passaram a gastar menos energia para transportar alimentos por grandes planícies.
Com uma maior gama de ambientes que eram capazes de ocupar e com mais adaptações anatômicas, os hominídeos começaram a crescer em tamanho. Em paralelo, sua dieta também melhorou, escrevem os cientistas. Teria sido nesse contexto, portanto, que mudanças biológicas e culturais começariam a moldar aqueles que viriam a dar origem aos homens modernos. (FOnte: Folha On-line, 27/02/2009)
Um estudo das marcas feitas em areia e argila solidificadas, apresentado pelos cientistas na edição de hoje da revista científica "Science", indica que provavelmente as pegadas foram deixadas por alguém da espécie Homo erectus. Mas é também possível que quem tenha pisado ali fosse o Homo ergaster, ainda mais primitivo, afirmam os autores do estudo, liderados por Matthew Bennett, da Universidade de Bournemouth.
"A comparação visual [dessa pegada] com os pés de outros primatas vivos ressalta óbvias diferenças", escrevem Robin Crompton e Todd Pataky, ambos da Universidade de Liverpool, em artigo de comentário feito para a própria "Science".
Segundo eles, as pegadas de Ileret servem para ajudar a explicar como o pé humano se tornou uma ferramenta de sobrevivência fundamental para o gênero Homo. Sua anatomia favorecia a vida sobre o chão --e não sobre as árvores-- o que reafirma um sinal distinto de adaptação evolutiva.
Mesmo com a última descoberta, porém, muitas lacunas evolutivas continuam a existir.
Enquanto hominídeos têm dedos curtos, por exemplo, e o dedão é alinhado com os demais, isso não é visto nos pés dos macacos. O mesmo vale para a marca que os pés humanos arqueados deixam sobre uma superfície mole, onde dedos e calcanhar afundam mais.
Toda a anatomia dos pés humanos, dizem os cientistas, é preparada para receber impactos sob os calcanhares e fazer leves impulsões com a parte da frente do pé --algo que qualquer atleta de fim de semana é capaz de perceber na prática.
Com base nas marcas encontradas em Ileret, os cientistas conseguiram reconstruir os pés que fizeram as pegadas e também fazer várias medidas com relação às marcas.
Sapato 39
A descoberta anunciada ontem é o primeiro grande marco nesse tipo de evidência paleontológica desde a apresentação de um conjunto de pegadas em Laetoli, na Tanzânia, há três décadas. Aquelas marcas, porém, com 3,6 milhões de anos, são provavelmente de membros da espécie Australopithecus afarensis, um primata que ainda não possuía muitas das características que afastaram os humanos dos macacos.
Apesar de já indicarem bipedalismo, as marcas de Laetoli apresentavam um arco estreito, e o dedão da espécie ainda não estava alinhado. Já as marcas do gênero Homo em Ileret --que mediam o equivalente a um pé de numeração 39-- se encaixam em dados anatômicos mais modernos.
Segundo Bennett e seus coautores, o surgimento de hominídeos com pernas mais longas foi uma importante alteração evolutiva. Os hominídeos de Ileret tinham cerca de 1,75 metro de altura, mais do que os australopitecos. A passos largos, passaram a gastar menos energia para transportar alimentos por grandes planícies.
Com uma maior gama de ambientes que eram capazes de ocupar e com mais adaptações anatômicas, os hominídeos começaram a crescer em tamanho. Em paralelo, sua dieta também melhorou, escrevem os cientistas. Teria sido nesse contexto, portanto, que mudanças biológicas e culturais começariam a moldar aqueles que viriam a dar origem aos homens modernos. (FOnte: Folha On-line, 27/02/2009)
quinta-feira, 19 de fevereiro de 2009
'Gás do pum' pode ajudar a tratar pressão alta, diz estudo
Um gás liberado em flatulências e em "bombas de cheiro" pode desempenhar o papel de regular a pressão sangüínea, segundo um estudo da John Hopkins University publicado pela revista especializada "Science".
Pequenas quantidade de sulfeto de hidrogênio - um gás tóxico gerado por bactérias que vivem no intestino humano - são responsáveis pelo mau cheiro de flatulências.
Mas o estudo mostra que esse gás também é produzido por uma enzima encontrada em células que revestem os vasos sangüíneos, chamada CSE, e ele teria o papel de relaxar essas veias e baixar a pressão.
As conclusões, tiradas a partir de um estudo com camundongos, podem levar a novos tratamentos para a pressão alta.
Experiência
No estudo, camundongos geneticamente modificados para ter deficiência da enzima CSE apresentaram níveis de sulfeto de hidrogênio quase nulos, em comparação com camundongos normais.
Os cobaias com deficiência da enzima apresentavam pressão sanguínea cerca de 20% mais alta do que os normais, resultados comparáveis à pressão alta em humanos.
Quando os camundongos modificados receberam um remédio para relaxar as veias - metacolina - não houve diferença, indicando que o gás é responsável pelo relaxamento.
Já se sabe que outro gás, o óxido nítrico, está envolvido no controle da pressão sanguínea.
"Agora que sabemos que o sulfeto de hidrogênio tem um papel no controle da pressão, pode ser possível criar terapias com remédios que aumentem sua produção como alternativa para os atuais métodos de tratamento de hipertensão", disse o pesquisador Solomon Snyder.
(Fonte: G1)
sexta-feira, 13 de fevereiro de 2009
Leitura
Fonte: TRIA L. MAROJA, R.. Superintrigante: O verdadeiro pulmão do planeta são os oceanos. Superinteressante: São Paulo, nov. 1998, p. 30.
quinta-feira, 12 de fevereiro de 2009
A Terra em alerta
O planeta esquenta e a catástrofe é iminente. Mas existe solução
Ondas de calor inéditas. Furacões avassaladores. Secas intermináveis onde antes havia água em abundância. Enchentes devastadoras. Extinção de milhares de espécies de animais e plantas. Incêndios florestais. Derretimento dos pólos. E toda a sorte de desastres naturais que fogem ao controle humano.
Há décadas, pesquisadores alertavam que o planeta sentiria no futuro o impacto do descuido do homem com o ambiente. Na virada do milênio, os avisos já não eram mais necessários – as catástrofes causadas pelo aquecimento global se tornaram realidades presentes em todos os continentes do mundo. O desafios passaram a ser dois: se adaptar à iminência de novos e mais dramáticos desastres naturais; e buscar soluções para amenizar o impacto do fenômeno.
Em tempos de aquecimento planetário, uma nova entidade internacional tomou as páginas de jornais e revistas de toda a Terra – o Painel Intergovernamental sobre Mudança Climática (IPCC), criado pela ONU para buscar consenso internacional sobre o assunto. Seus aguardados relatórios ganharam destaque por trazer as principais causas do problema, e apontar para possíveis caminhos que podem reverter alguns pontos do quadro.
Em 2007, o painel escreveu e divulgou três textos. No primeiro, de fevereiro, o IPCC responsabilizou a atividade humana pelo aquecimento global – algo que sempre se soube, mas nunca tinha sido confirmado por uma organização deste porte. Advertiu também que, mantido o crescimento atual dos níveis de poluição da atmosfera, a temperatura média do planeta subirá 4 graus até o fim do século. O relatório seguinte, apresentado em abril, tratou do potencial catastrófico do fenômeno e concluiu que ele poderá provocar extinções em massa, elevação dos oceanos e devastação em áreas costeiras.
A surpresa veio no terceiro documento da ONU, divulgado em maio. Em linhas gerais, ele diz o seguinte: se o homem causou o problema, pode também resolvê-lo. E por um preço relativamente modesto – pouco mais de 0,12% do produto interno bruto mundial por ano até 2030. Embora contestado por ambientalistas e ONGs verdes, o número merece atenção.
O 0,12% do PIB mundial seria gasto tanto pelos governos, para financiar o desenvolvimento de tecnologias limpas, como pelos consumidores, que precisariam mudar alguns de seus hábitos. O objetivo final? Reduzir as emissões de gases do efeito estufa, que impede a dissipação do calor e esquenta a atmosfera.
O aquecimento global não será contido apenas com a publicação dos relatórios do IPCC. Nem com sua conclusão de que não sai tão caro reduzir as emissões de gases. Apesar de serem bons pontos de partida para balizar as ações, os documentos não têm o poder de obrigar uma ou outra nação a tomar providências. Para a obtenção de resultados significativos, o esforço de redução da poluição precisa ser global. O fracasso do Tratado de Kioto, ao qual os Estados Unidos, os maiores emissores de CO2 do mundo, não aderiram, ilustra os problemas colocados diante das tentativas de conter o aquecimento global.
(FONTE: http://veja.abril.com.br/idade/exclusivo/aquecimento_global/contexto_int.html)
Ondas de calor inéditas. Furacões avassaladores. Secas intermináveis onde antes havia água em abundância. Enchentes devastadoras. Extinção de milhares de espécies de animais e plantas. Incêndios florestais. Derretimento dos pólos. E toda a sorte de desastres naturais que fogem ao controle humano.
Há décadas, pesquisadores alertavam que o planeta sentiria no futuro o impacto do descuido do homem com o ambiente. Na virada do milênio, os avisos já não eram mais necessários – as catástrofes causadas pelo aquecimento global se tornaram realidades presentes em todos os continentes do mundo. O desafios passaram a ser dois: se adaptar à iminência de novos e mais dramáticos desastres naturais; e buscar soluções para amenizar o impacto do fenômeno.
Em tempos de aquecimento planetário, uma nova entidade internacional tomou as páginas de jornais e revistas de toda a Terra – o Painel Intergovernamental sobre Mudança Climática (IPCC), criado pela ONU para buscar consenso internacional sobre o assunto. Seus aguardados relatórios ganharam destaque por trazer as principais causas do problema, e apontar para possíveis caminhos que podem reverter alguns pontos do quadro.
Em 2007, o painel escreveu e divulgou três textos. No primeiro, de fevereiro, o IPCC responsabilizou a atividade humana pelo aquecimento global – algo que sempre se soube, mas nunca tinha sido confirmado por uma organização deste porte. Advertiu também que, mantido o crescimento atual dos níveis de poluição da atmosfera, a temperatura média do planeta subirá 4 graus até o fim do século. O relatório seguinte, apresentado em abril, tratou do potencial catastrófico do fenômeno e concluiu que ele poderá provocar extinções em massa, elevação dos oceanos e devastação em áreas costeiras.
A surpresa veio no terceiro documento da ONU, divulgado em maio. Em linhas gerais, ele diz o seguinte: se o homem causou o problema, pode também resolvê-lo. E por um preço relativamente modesto – pouco mais de 0,12% do produto interno bruto mundial por ano até 2030. Embora contestado por ambientalistas e ONGs verdes, o número merece atenção.
O 0,12% do PIB mundial seria gasto tanto pelos governos, para financiar o desenvolvimento de tecnologias limpas, como pelos consumidores, que precisariam mudar alguns de seus hábitos. O objetivo final? Reduzir as emissões de gases do efeito estufa, que impede a dissipação do calor e esquenta a atmosfera.
O aquecimento global não será contido apenas com a publicação dos relatórios do IPCC. Nem com sua conclusão de que não sai tão caro reduzir as emissões de gases. Apesar de serem bons pontos de partida para balizar as ações, os documentos não têm o poder de obrigar uma ou outra nação a tomar providências. Para a obtenção de resultados significativos, o esforço de redução da poluição precisa ser global. O fracasso do Tratado de Kioto, ao qual os Estados Unidos, os maiores emissores de CO2 do mundo, não aderiram, ilustra os problemas colocados diante das tentativas de conter o aquecimento global.
(FONTE: http://veja.abril.com.br/idade/exclusivo/aquecimento_global/contexto_int.html)
Reportagem: Megadiversidade corroída em ritmo acelerado
Por Germana Barata
Trinta e quatro regiões no mundo inteiro são consideradas áreas prioritárias de conservação (hotspots), por abrigarem verdadeiros tesouros biológicos; duas dessas regiões estão no Brasil e uma delas é a do Cerrado (e a outra, por incrível que pareça, não é a Amazônia, mas a Mata Atlântica). O desmatamento no Cerrado anda a passos largos anualmente e as propriedades agrícolas podem, apoiadas pelo Código Florestal vigente, preservar apenas 20% da área nativa, bem diferente do que ocorre em florestas tropicais, como a Amazônia, nas quais esse percentual corresponde ao máximo que se permite desmatar. São 12.356 espécies da flora e mais de 2.546 animais catalogados, meros 10% do que existia originalmente nesse bioma. É também o berço de três das maiores bacias da América Latina (Amazônica, Paraná-Paraguai e São Francisco). Tantas riquezas ainda não foram suficientes para acender um alerta para garantir a sobrevivência, manutenção e conservação do Cerrado, segundo maior bioma nacional. Outra riqueza, essa produzida em seus mais de 70% de território degradado, tem sido a prioridade nacional: a agropecuária e o carvão vegetal.
Enquanto o Congresso Nacional tenta aprovar a Proposta de Emenda à Constituição (PEC 115/1995) para reconhecer o Cerrado como patrimônio nacional, a megabiodiversidade, mais rica em áreas abertas – justamente aquelas que são mais visadas pela agropecuária –, vai sendo consumida. “Mesmo considerando o número de pesquisas existentes no Cerrado, o conhecimento científico é bastante precário, pois novas espécies estão sendo descobertas a cada levantamento faunístico e florístico realizado”, apontam os autores do estudo de perda de espécies do Cerrado, apresentado durante o IX Simpósio Nacional do Cerrado, ocorrido em outubro do ano passado. Ricardo Machado, diretor do programa Cerrado-Pantanal da ONG Conservação Internacional e um dos autores do trabalho, conta que e m expedição realizada por sua equipe durante três semanas, foram identificadas 14 novas espécies de répteis, peixes, mamíferos e aves – grupos de animais de maior porte e, portanto, mais conhecidos.
Não é difícil prever o nível de desconhecimento de grupos menores, como fungos, embora sejam fundamentais para a ciclagem de nutrientes do meio ambiente. “Praticamente tudo é o primeiro registro”, lamenta Solange Xavier dos Santos, especialista em micologia (estudo de fungos) da Universidade Estadual de Goiás. O que se conhece equivale a menos de 5% do total existente. O mesmo vale para representantes de outros grupos, como os numerosos insetos. “O nível de desconhecimento é diretamente proporcional ao número de profissionais envolvidos nas pesquisas”, estima a pesquisadora.
Dentre os fatores responsáveis pelo desconhecimento do bioma estão a falta de especialistas, centros de pesquisa e coleções científicas, além de dificuldades de acesso às áreas para coleta de material biológico. Muitos grupos de pesquisadores do bioma estão localizados em algumas poucas instituições, como é o caso da Universidade de São Paulo (USP), Universidade de Brasília (UnB) e Universidade Federal de Goiás (UFG), além da Embrapa. Mas o problema reside também nos baixos gastos governamentais no bioma e em políticas ambientais que garantam rapidamente a proteção de áreas maiores. A Conservação Internacional demonstra, através de análise dos recursos aplicados pelo Ibama em 2007, que o Cerrado recebeu apenas 8% do montante reservado para unidades de conservação, ou R$ 107 milhões, enquanto o valor mínimo necessário seria de R$ 5.638 por hectare, ou seja, R$ 227 milhões. Recurso que desaparece perto do gigantesco investimento na produção agrícola na região do Cerrado no mesmo ano, de R$ 41 bilhões.
Soluções em vista
Com mais de 70% do Cerrado degradado, multiplicam-se projetos persistentes e apaixonados, que tentam recuperar terrenos batidos, nus. Um deles é a Rede de Sementes do Cerrado, que atua desde 2005, como uma proposta do Ministério do Meio Ambiente, no desenvolvimento de métodos de germinação de sementes e mudas nativas do bioma. A idéia não é nova e parece bastante simples, porém enfrenta dois grandes desafios: a) desvendar o funcionamento de cada espécie para que possa ser reproduzida em quantidades suficientes – em condições não naturais – para reflorestar vastas áreas, podendo se desenvolver com sucesso para gerar descendentes que continuem sua tarefa; b) conseguir autorização para a coleta de sementes e mudas nativas para fomentar o projeto, atualmente um processo considerado fora da lei.
“Temos receitas próximas da realidade para cada tipo de região, já que o Cerrado varia de acordo com o tipo de solo”, afirma Manoel Cláudio da Silva Jr, do Departamento de Engenharia Florestal da Universidade de Brasília (UnB) e membro da rede. Uma estimativa feita pelos especialistas da Rede de Sementes constatou que seriam necessárias 50 bilhões de mudas para recuperar apenas áreas de reserva legal (os 20% de vegetação nativa que devem ser mantidos numa área), além da Área de Proteção Permanente (APP) – como terrenos inclinados, frágeis, erodidos ou com nascentes de rios. “A proposta da rede é legalizar o Cerrado”, defende o especialista.
Até agora, o projeto conseguiu, em parceria com a Embrapa, determinar as técnicas de germinação para cerca de 200 espécies de ampla ocorrência no Cerrado. “Há um pequeno número de espécies que domina a paisagem e um gigantesco número que ocorre em menor quantidade”, explica Silva Jr.
A rede aguarda o lançamento, em breve, do “Clique Cerrado”, projeto em parceria com o Banco do Brasil que visa o plantio de 3 milhões de mudas através da participação de internautas, seguindo o exemplo da bem sucedida iniciativa “Clickarvore” da ONG SOS Mata Atlântica, que já conseguiu a doação de quase 19 milhões de mudas nativas.
O plantio de árvores em tempos de mudanças climáticas pode ser também uma forma de gerar créditos de carbono. É o que aposta Ricardo Machado, da Conservação Internacional. Ele esclarece que o valor gerado com os créditos de carbono daria para cobrir o custo de manutenção da recuperação de áreas degradadas, mas não cobre o lucro gerado pela agropecuária. O objetivo é promover o casamento entre empresas que querem compensar a emissão de gás carbônico (um dos causadores do efeito estufa) com fazendeiros locais ansiosos para resolver seu passivo ambiental, regularizando sua situação, por meio de viveiros gerenciados por comunidades locais. “Do ponto de vista dos fazendeiros com áreas degradadas, que foram estimulados pelo governo para ocupá-las e para produzir, eles acreditam que também devem ser estimulados a recuperar suas áreas”, afirma Machado.
Pouca proteção garantida
Enquanto os Ministérios do Meio Ambiente e da Agricultura, Pecuária e Abastecimento negociam as políticas públicas de suas agendas, especialistas e conservacionistas se esforçam para conhecer os organismos e a dinâmica do Cerrado, protegido por meio de unidades de conservação em, aproximadamente, 2,2% de sua área total, entre as quais estão o Parque Nacional das Emas (131.832 ha), o Parque Nacional Grande Sertão Veredas (84 mil ha), o Parque Nacional da Serra da Canastra ( 71.525 ha ), o Parque Nacional da Chapada dos Veadeiros (60 mil ha), o Parque Nacional da Chapada dos Guimarães (33 mil ha) e o Parque Nacional de Brasília (28 mil ha). Segundo dados do Ministério do Meio Ambiente, o Cerrado responde por 9% das unidades de conservação existentes no país, enquanto a Amazônia abriga 88% delas e o restante se divide nos demais biomas.
O status de Unidade de Conservação não garante a conservação do bioma. Há problemas de falta de profissionais para fazer a manutenção, controle e vigilância da área e a demarcação das terras é precária. Não bastassem esses obstáculos, algumas unidades de conservação correm o risco de serem reduzidas, a exemplo do que vem ocorrendo com a Serra da Canastra. Criada em 1972, sua área de 197.797 ha foi reduzi da, no ano passado, para 150.168 ha (embora a diferença tenha sido transformada em APP, garantindo maior proteção do bioma) e ainda está no alvo de exploradores de diamantes. Em 2001, a empresa De Beers anunciou a venda do maior quimberlito mineralizado (fonte primária do diamante) em uma área de um hectare, com potencial estimado em um milhão de quilates de diamantes, valendo em torno de US$ 150 milhões; e hoje, há um potencial de extração que varia de 550 mil a 2 milhões de quilates.
Estimativas realizadas por Machado e colegas, em 2008, sobre as perdas de espécies em relação à redução do bioma, concluem que o Cerrado já deve ter perdido 13% de sua biodiversidade, considerando a situação de ocupação atual e o que é exigido pelo Código Florestal Brasileiro, podendo chegar a 24% de perda com uma ocupação do bioma equivalente a 75%. “Os números sugerem que é preciso fazer mais do que a legislação ambiental exige, caso a sustentabilidade ambiental seja realmente considerada no desenvolvimento econômico do Cerrado”, alertam os autores.
Trinta e quatro regiões no mundo inteiro são consideradas áreas prioritárias de conservação (hotspots), por abrigarem verdadeiros tesouros biológicos; duas dessas regiões estão no Brasil e uma delas é a do Cerrado (e a outra, por incrível que pareça, não é a Amazônia, mas a Mata Atlântica). O desmatamento no Cerrado anda a passos largos anualmente e as propriedades agrícolas podem, apoiadas pelo Código Florestal vigente, preservar apenas 20% da área nativa, bem diferente do que ocorre em florestas tropicais, como a Amazônia, nas quais esse percentual corresponde ao máximo que se permite desmatar. São 12.356 espécies da flora e mais de 2.546 animais catalogados, meros 10% do que existia originalmente nesse bioma. É também o berço de três das maiores bacias da América Latina (Amazônica, Paraná-Paraguai e São Francisco). Tantas riquezas ainda não foram suficientes para acender um alerta para garantir a sobrevivência, manutenção e conservação do Cerrado, segundo maior bioma nacional. Outra riqueza, essa produzida em seus mais de 70% de território degradado, tem sido a prioridade nacional: a agropecuária e o carvão vegetal.
Enquanto o Congresso Nacional tenta aprovar a Proposta de Emenda à Constituição (PEC 115/1995) para reconhecer o Cerrado como patrimônio nacional, a megabiodiversidade, mais rica em áreas abertas – justamente aquelas que são mais visadas pela agropecuária –, vai sendo consumida. “Mesmo considerando o número de pesquisas existentes no Cerrado, o conhecimento científico é bastante precário, pois novas espécies estão sendo descobertas a cada levantamento faunístico e florístico realizado”, apontam os autores do estudo de perda de espécies do Cerrado, apresentado durante o IX Simpósio Nacional do Cerrado, ocorrido em outubro do ano passado. Ricardo Machado, diretor do programa Cerrado-Pantanal da ONG Conservação Internacional e um dos autores do trabalho, conta que e m expedição realizada por sua equipe durante três semanas, foram identificadas 14 novas espécies de répteis, peixes, mamíferos e aves – grupos de animais de maior porte e, portanto, mais conhecidos.
Não é difícil prever o nível de desconhecimento de grupos menores, como fungos, embora sejam fundamentais para a ciclagem de nutrientes do meio ambiente. “Praticamente tudo é o primeiro registro”, lamenta Solange Xavier dos Santos, especialista em micologia (estudo de fungos) da Universidade Estadual de Goiás. O que se conhece equivale a menos de 5% do total existente. O mesmo vale para representantes de outros grupos, como os numerosos insetos. “O nível de desconhecimento é diretamente proporcional ao número de profissionais envolvidos nas pesquisas”, estima a pesquisadora.
Dentre os fatores responsáveis pelo desconhecimento do bioma estão a falta de especialistas, centros de pesquisa e coleções científicas, além de dificuldades de acesso às áreas para coleta de material biológico. Muitos grupos de pesquisadores do bioma estão localizados em algumas poucas instituições, como é o caso da Universidade de São Paulo (USP), Universidade de Brasília (UnB) e Universidade Federal de Goiás (UFG), além da Embrapa. Mas o problema reside também nos baixos gastos governamentais no bioma e em políticas ambientais que garantam rapidamente a proteção de áreas maiores. A Conservação Internacional demonstra, através de análise dos recursos aplicados pelo Ibama em 2007, que o Cerrado recebeu apenas 8% do montante reservado para unidades de conservação, ou R$ 107 milhões, enquanto o valor mínimo necessário seria de R$ 5.638 por hectare, ou seja, R$ 227 milhões. Recurso que desaparece perto do gigantesco investimento na produção agrícola na região do Cerrado no mesmo ano, de R$ 41 bilhões.
Soluções em vista
Com mais de 70% do Cerrado degradado, multiplicam-se projetos persistentes e apaixonados, que tentam recuperar terrenos batidos, nus. Um deles é a Rede de Sementes do Cerrado, que atua desde 2005, como uma proposta do Ministério do Meio Ambiente, no desenvolvimento de métodos de germinação de sementes e mudas nativas do bioma. A idéia não é nova e parece bastante simples, porém enfrenta dois grandes desafios: a) desvendar o funcionamento de cada espécie para que possa ser reproduzida em quantidades suficientes – em condições não naturais – para reflorestar vastas áreas, podendo se desenvolver com sucesso para gerar descendentes que continuem sua tarefa; b) conseguir autorização para a coleta de sementes e mudas nativas para fomentar o projeto, atualmente um processo considerado fora da lei.
“Temos receitas próximas da realidade para cada tipo de região, já que o Cerrado varia de acordo com o tipo de solo”, afirma Manoel Cláudio da Silva Jr, do Departamento de Engenharia Florestal da Universidade de Brasília (UnB) e membro da rede. Uma estimativa feita pelos especialistas da Rede de Sementes constatou que seriam necessárias 50 bilhões de mudas para recuperar apenas áreas de reserva legal (os 20% de vegetação nativa que devem ser mantidos numa área), além da Área de Proteção Permanente (APP) – como terrenos inclinados, frágeis, erodidos ou com nascentes de rios. “A proposta da rede é legalizar o Cerrado”, defende o especialista.
Até agora, o projeto conseguiu, em parceria com a Embrapa, determinar as técnicas de germinação para cerca de 200 espécies de ampla ocorrência no Cerrado. “Há um pequeno número de espécies que domina a paisagem e um gigantesco número que ocorre em menor quantidade”, explica Silva Jr.
A rede aguarda o lançamento, em breve, do “Clique Cerrado”, projeto em parceria com o Banco do Brasil que visa o plantio de 3 milhões de mudas através da participação de internautas, seguindo o exemplo da bem sucedida iniciativa “Clickarvore” da ONG SOS Mata Atlântica, que já conseguiu a doação de quase 19 milhões de mudas nativas.
O plantio de árvores em tempos de mudanças climáticas pode ser também uma forma de gerar créditos de carbono. É o que aposta Ricardo Machado, da Conservação Internacional. Ele esclarece que o valor gerado com os créditos de carbono daria para cobrir o custo de manutenção da recuperação de áreas degradadas, mas não cobre o lucro gerado pela agropecuária. O objetivo é promover o casamento entre empresas que querem compensar a emissão de gás carbônico (um dos causadores do efeito estufa) com fazendeiros locais ansiosos para resolver seu passivo ambiental, regularizando sua situação, por meio de viveiros gerenciados por comunidades locais. “Do ponto de vista dos fazendeiros com áreas degradadas, que foram estimulados pelo governo para ocupá-las e para produzir, eles acreditam que também devem ser estimulados a recuperar suas áreas”, afirma Machado.
Pouca proteção garantida
Enquanto os Ministérios do Meio Ambiente e da Agricultura, Pecuária e Abastecimento negociam as políticas públicas de suas agendas, especialistas e conservacionistas se esforçam para conhecer os organismos e a dinâmica do Cerrado, protegido por meio de unidades de conservação em, aproximadamente, 2,2% de sua área total, entre as quais estão o Parque Nacional das Emas (131.832 ha), o Parque Nacional Grande Sertão Veredas (84 mil ha), o Parque Nacional da Serra da Canastra ( 71.525 ha ), o Parque Nacional da Chapada dos Veadeiros (60 mil ha), o Parque Nacional da Chapada dos Guimarães (33 mil ha) e o Parque Nacional de Brasília (28 mil ha). Segundo dados do Ministério do Meio Ambiente, o Cerrado responde por 9% das unidades de conservação existentes no país, enquanto a Amazônia abriga 88% delas e o restante se divide nos demais biomas.
O status de Unidade de Conservação não garante a conservação do bioma. Há problemas de falta de profissionais para fazer a manutenção, controle e vigilância da área e a demarcação das terras é precária. Não bastassem esses obstáculos, algumas unidades de conservação correm o risco de serem reduzidas, a exemplo do que vem ocorrendo com a Serra da Canastra. Criada em 1972, sua área de 197.797 ha foi reduzi da, no ano passado, para 150.168 ha (embora a diferença tenha sido transformada em APP, garantindo maior proteção do bioma) e ainda está no alvo de exploradores de diamantes. Em 2001, a empresa De Beers anunciou a venda do maior quimberlito mineralizado (fonte primária do diamante) em uma área de um hectare, com potencial estimado em um milhão de quilates de diamantes, valendo em torno de US$ 150 milhões; e hoje, há um potencial de extração que varia de 550 mil a 2 milhões de quilates.
Estimativas realizadas por Machado e colegas, em 2008, sobre as perdas de espécies em relação à redução do bioma, concluem que o Cerrado já deve ter perdido 13% de sua biodiversidade, considerando a situação de ocupação atual e o que é exigido pelo Código Florestal Brasileiro, podendo chegar a 24% de perda com uma ocupação do bioma equivalente a 75%. “Os números sugerem que é preciso fazer mais do que a legislação ambiental exige, caso a sustentabilidade ambiental seja realmente considerada no desenvolvimento econômico do Cerrado”, alertam os autores.
ARTIGO: Novas tecnologias podem auxiliar na conservação e uso sustentável do Cerrado
Por Anderson Cleiton José
Enquanto todas as atenções estão voltadas para o desmatamento da Floresta Amazônica, o Cerrado brasileiro é devastado de forma lenta e silenciosa, para atender ao avanço de monoculturas que cada vez mais exigem a abertura de novas áreas para o plantio de espécies agrícolas e florestais. Um dos fatores que estimulam essa investida sobre o Cerrado é a posição estratégica dessas áreas, próximas aos grandes centros consumidores, e o relevo plano que facilita a mecanização, reduzindo os custos de implantação, manutenção e colheita.
Segundo pesquisas recentes realizadas pela Conservation International do Brasil, o bioma Cerrado corre o risco de desaparecer até 2030 se medidas urgentes não forem tomadas. Dos 204 milhões de hectares originais, 57% já foram completamente destruídos e a metade das áreas remanescentes estão bastante alteradas, podendo não mais servir aos propósitos de conservação da biodiversidade. Estima-se que o desmatamento anual nas áreas de Cerrado esteja entre 1,5 a 3,0 milhões de hectares.
A conservação dos recursos naturais
A forma mais eficiente para a proteção dos recursos naturais é a sua conservação in situ. Isto consiste na manutenção das áreas intactas, mediante a criação de unidades de conservação, tais como parques nacionais, reservas biológicas, florestas nacionais e áreas de proteção ambiental, dentre outras. No Cerrado, infelizmente, o número de unidades de conservação é muito baixo, quando comparado com outros biomas, e essas, geralmente, são muito vulneráveis a ações antrópicas (fogo, desmatamento, caça e pesca).
Dessa forma, devido à grande degradação verificada no bioma como um todo, mesmo as áreas protegidas necessitam de uma atenção especial, para que a conservação ocorra de forma efetiva. Uma maneira encontrada para diminuir os impactos sobre essas áreas é a criação de corredores ecológicos, que são áreas que unem os remanescentes florestais, possibilitando o fluxo gênico, que nada mais é do que o trânsito de animais e a dispersão de sementes e pólen de espécies vegetais. Esses corredores foram planejados para interligar remanescentes de vários biomas. No Cerrado, estão previstos a criação dos corredores Araguaia-Pantanal, abrangendo 10 milhões de hectares nos estados de GO, TO, MT e PA, o corredor ecológico Jalapão-Mangabeiras, situado na confluência dos estados de TO, PI e BA, o corredor ecológico Cerrado-Pantanal, situado na bacia do rio Taquari, GO, interligando o Pantanal com o Cerrado da região do Parque Nacional de Emas, e o corredor JICA, na região do Vale do Paraná/Serra dos Pirineus, abrangendo os estados de GO, DF e TO.
A conservação também pode se dar através do uso sustentável dos recursos naturais. Pesquisas recentes realizadas pela Universidade Federal de Lavras (MG) mostram que é viável economicamente manejar a vegetação do Cerrado, como alternativa ao seu desmatamento para a implantação de florestas de eucalipto, atividade que vem ocorrendo em larga escala em vários estados brasileiros. Esses estudos, porém, levaram em conta somente a utilização dos produtos madeireiros, deixando de lado o que muitos consideram a grande riqueza deste bioma que é a enorme diversidade de produtos que podem ser extraídos, tais como frutos, sementes, óleos, fibras, etc...
Entretanto, ao se propor metas para um programa de conservação, mediante a criação de unidades de conservação, ou mesmo ao permitir o uso sustentável dos recursos naturais, algumas informações são de fundamental importância para que o seu manejo seja realizado de forma correta. Associado a estudos de geomorfologia, geologia, solos, clima, sistemática botânica e biogeografia, técnicas moleculares podem fornecer subsídios aos estudos da vegetação para o estabelecimento de estratégias adequadas para o manejo ambiental
A análise de características genéticas das populações que se pretende conservar, mediante marcadores moleculares, que tem como objeto de estudo as sequências de DNA e proteínas dos indivíduos, objetiva reduzir os riscos para as populações a serem conservadas, evitando a endogamia (cruzamento entre indivíduos aparentados) e a deriva genética, devido à redução do número de indivíduos das populações. Isso porque uma população a ser conservada em uma determinada área não precisa ser necessariamente grande, mas necessita ter número suficiente de indivíduos para ser representativa, evitando a endogamia e possibilitando a manutenção do potencial evolutivo das espécies.
Conhecer para poder preservar
Hoje, um dos grandes desafios para os pesquisadores é o entendimento da biologia das espécies do Cerrado. Essas informações são úteis tanto no manejo correto das populações, por exemplo, em unidades de conservação, bem como para o uso sustentado dos seus recursos.
Os processos relacionados à reprodução têm sido alvo de muitas pesquisas nos últimos anos. Compreender os mecanismos de propagação das espécies, bem como a estruturação das espécies nos diversos habitats parece ser o ponto chave para o estabelecimento de propostas de recomposição e conservação de áreas naturais.
As espécies que se adaptam a um determinado ambiente desenvolvem “habilidades” para poderem suportar as condições ambientais ali existentes. Como exemplo, cita-se um mecanismo muito importante para as espécies vegetais que é a dormência das sementes, a qual garante que nem todas as sementes dispersas em um ano germinem prontamente quando as condições ambientais forem favoráveis (luz, umidade e substrato). Isso significa que muitas sementes podem permanecer no solo por até dezenas de anos, até que germinem para dar origem a uma nova planta. Entretanto, esse mecanismo muitas vezes inviabiliza a produção de mudas de algumas espécies para utilização em programas de recuperação ambiental ou mesmo para a utilização racional de algumas espécies com potencial econômico.
Dessa forma, vários estudos utilizando técnicas baseadas na análise de DNA têm ajudado os pesquisadores a entender os mecanismos fisiológicos relacionados ao desenvolvimento, germinação e dormência de espécies florestais do Cerrado, permitindo dessa forma, que um número maior de espécies seja utilizado nos projetos de reflorestamento para a recomposição da flora.
A análise da estrutura genética populacional também pode ser realizada através de técnicas moleculares, e atualmente tem passado por grandes avanços tecnológicos.
Tecnologias que podem auxiliar a conservação do Cerrado
Se por um lado a biotecnologia pode ter uma conotação negativa para alguns grupos da sociedade – nesse caso, quando associada aos organismos geneticamente modificados (transgênicos) –, por outro, pode ser uma ferramenta de fundamental importância para a conservação dos recursos naturais.
Desde a descoberta do DNA, o desenvolvimento de técnicas de análise molecular tem passado por grandes avanços. Nos últimos três anos, foram desenvolvidos métodos rápidos e baratos para o sequenciamento de DNA, permitindo o sequenciamento de moléculas de qualquer espécie em um curto período de tempo. Enquanto o uso dessas tecnologias ficava restrito a estudos na área de saúde humana ou em espécies vegetais modelo, geralmente espécies com um genoma pequeno, agora o avanço no desenvolvimento dessas tecnologias permite o uso dessas ferramentas em qualquer espécie nativa.
A importância desses avanços, além da maior acessibilidade pela redução dos custos das análises, reside na possibilidade do desenvolvimento de marcadores para diversos processos fisiológicos, na redução do tempo para obtenção de informações e, consequentemente, na possibilidade de acompanhar a dinâmica de populações de um maior número de espécies.
Entretanto, mesmo com o desenvolvimento dessas novas tecnologias, a manutenção das unidades de conservação já existentes e a recuperação de áreas degradadas, interligando grandes fragmentos, associado ao uso sustentável dos recursos naturais, ainda são a alternativa mais viável para a conservação, visto que não se conhece nem mesmo a totalidade da diversidade de nossos ecossistemas, e, dessa forma, os esforços ainda devem ser concentrados em manter intacto o pouco que nos restou.
Anderson Cleiton José é professor adjunto do curso de engenharia florestal da Universidade Federal do Tocantins, Campus Universitário de Gurupi. Contato: acjose@uft.edu.br.
Enquanto todas as atenções estão voltadas para o desmatamento da Floresta Amazônica, o Cerrado brasileiro é devastado de forma lenta e silenciosa, para atender ao avanço de monoculturas que cada vez mais exigem a abertura de novas áreas para o plantio de espécies agrícolas e florestais. Um dos fatores que estimulam essa investida sobre o Cerrado é a posição estratégica dessas áreas, próximas aos grandes centros consumidores, e o relevo plano que facilita a mecanização, reduzindo os custos de implantação, manutenção e colheita.
Segundo pesquisas recentes realizadas pela Conservation International do Brasil, o bioma Cerrado corre o risco de desaparecer até 2030 se medidas urgentes não forem tomadas. Dos 204 milhões de hectares originais, 57% já foram completamente destruídos e a metade das áreas remanescentes estão bastante alteradas, podendo não mais servir aos propósitos de conservação da biodiversidade. Estima-se que o desmatamento anual nas áreas de Cerrado esteja entre 1,5 a 3,0 milhões de hectares.
A conservação dos recursos naturais
A forma mais eficiente para a proteção dos recursos naturais é a sua conservação in situ. Isto consiste na manutenção das áreas intactas, mediante a criação de unidades de conservação, tais como parques nacionais, reservas biológicas, florestas nacionais e áreas de proteção ambiental, dentre outras. No Cerrado, infelizmente, o número de unidades de conservação é muito baixo, quando comparado com outros biomas, e essas, geralmente, são muito vulneráveis a ações antrópicas (fogo, desmatamento, caça e pesca).
Dessa forma, devido à grande degradação verificada no bioma como um todo, mesmo as áreas protegidas necessitam de uma atenção especial, para que a conservação ocorra de forma efetiva. Uma maneira encontrada para diminuir os impactos sobre essas áreas é a criação de corredores ecológicos, que são áreas que unem os remanescentes florestais, possibilitando o fluxo gênico, que nada mais é do que o trânsito de animais e a dispersão de sementes e pólen de espécies vegetais. Esses corredores foram planejados para interligar remanescentes de vários biomas. No Cerrado, estão previstos a criação dos corredores Araguaia-Pantanal, abrangendo 10 milhões de hectares nos estados de GO, TO, MT e PA, o corredor ecológico Jalapão-Mangabeiras, situado na confluência dos estados de TO, PI e BA, o corredor ecológico Cerrado-Pantanal, situado na bacia do rio Taquari, GO, interligando o Pantanal com o Cerrado da região do Parque Nacional de Emas, e o corredor JICA, na região do Vale do Paraná/Serra dos Pirineus, abrangendo os estados de GO, DF e TO.
A conservação também pode se dar através do uso sustentável dos recursos naturais. Pesquisas recentes realizadas pela Universidade Federal de Lavras (MG) mostram que é viável economicamente manejar a vegetação do Cerrado, como alternativa ao seu desmatamento para a implantação de florestas de eucalipto, atividade que vem ocorrendo em larga escala em vários estados brasileiros. Esses estudos, porém, levaram em conta somente a utilização dos produtos madeireiros, deixando de lado o que muitos consideram a grande riqueza deste bioma que é a enorme diversidade de produtos que podem ser extraídos, tais como frutos, sementes, óleos, fibras, etc...
Entretanto, ao se propor metas para um programa de conservação, mediante a criação de unidades de conservação, ou mesmo ao permitir o uso sustentável dos recursos naturais, algumas informações são de fundamental importância para que o seu manejo seja realizado de forma correta. Associado a estudos de geomorfologia, geologia, solos, clima, sistemática botânica e biogeografia, técnicas moleculares podem fornecer subsídios aos estudos da vegetação para o estabelecimento de estratégias adequadas para o manejo ambiental
A análise de características genéticas das populações que se pretende conservar, mediante marcadores moleculares, que tem como objeto de estudo as sequências de DNA e proteínas dos indivíduos, objetiva reduzir os riscos para as populações a serem conservadas, evitando a endogamia (cruzamento entre indivíduos aparentados) e a deriva genética, devido à redução do número de indivíduos das populações. Isso porque uma população a ser conservada em uma determinada área não precisa ser necessariamente grande, mas necessita ter número suficiente de indivíduos para ser representativa, evitando a endogamia e possibilitando a manutenção do potencial evolutivo das espécies.
Conhecer para poder preservar
Hoje, um dos grandes desafios para os pesquisadores é o entendimento da biologia das espécies do Cerrado. Essas informações são úteis tanto no manejo correto das populações, por exemplo, em unidades de conservação, bem como para o uso sustentado dos seus recursos.
Os processos relacionados à reprodução têm sido alvo de muitas pesquisas nos últimos anos. Compreender os mecanismos de propagação das espécies, bem como a estruturação das espécies nos diversos habitats parece ser o ponto chave para o estabelecimento de propostas de recomposição e conservação de áreas naturais.
As espécies que se adaptam a um determinado ambiente desenvolvem “habilidades” para poderem suportar as condições ambientais ali existentes. Como exemplo, cita-se um mecanismo muito importante para as espécies vegetais que é a dormência das sementes, a qual garante que nem todas as sementes dispersas em um ano germinem prontamente quando as condições ambientais forem favoráveis (luz, umidade e substrato). Isso significa que muitas sementes podem permanecer no solo por até dezenas de anos, até que germinem para dar origem a uma nova planta. Entretanto, esse mecanismo muitas vezes inviabiliza a produção de mudas de algumas espécies para utilização em programas de recuperação ambiental ou mesmo para a utilização racional de algumas espécies com potencial econômico.
Dessa forma, vários estudos utilizando técnicas baseadas na análise de DNA têm ajudado os pesquisadores a entender os mecanismos fisiológicos relacionados ao desenvolvimento, germinação e dormência de espécies florestais do Cerrado, permitindo dessa forma, que um número maior de espécies seja utilizado nos projetos de reflorestamento para a recomposição da flora.
A análise da estrutura genética populacional também pode ser realizada através de técnicas moleculares, e atualmente tem passado por grandes avanços tecnológicos.
Tecnologias que podem auxiliar a conservação do Cerrado
Se por um lado a biotecnologia pode ter uma conotação negativa para alguns grupos da sociedade – nesse caso, quando associada aos organismos geneticamente modificados (transgênicos) –, por outro, pode ser uma ferramenta de fundamental importância para a conservação dos recursos naturais.
Desde a descoberta do DNA, o desenvolvimento de técnicas de análise molecular tem passado por grandes avanços. Nos últimos três anos, foram desenvolvidos métodos rápidos e baratos para o sequenciamento de DNA, permitindo o sequenciamento de moléculas de qualquer espécie em um curto período de tempo. Enquanto o uso dessas tecnologias ficava restrito a estudos na área de saúde humana ou em espécies vegetais modelo, geralmente espécies com um genoma pequeno, agora o avanço no desenvolvimento dessas tecnologias permite o uso dessas ferramentas em qualquer espécie nativa.
A importância desses avanços, além da maior acessibilidade pela redução dos custos das análises, reside na possibilidade do desenvolvimento de marcadores para diversos processos fisiológicos, na redução do tempo para obtenção de informações e, consequentemente, na possibilidade de acompanhar a dinâmica de populações de um maior número de espécies.
Entretanto, mesmo com o desenvolvimento dessas novas tecnologias, a manutenção das unidades de conservação já existentes e a recuperação de áreas degradadas, interligando grandes fragmentos, associado ao uso sustentável dos recursos naturais, ainda são a alternativa mais viável para a conservação, visto que não se conhece nem mesmo a totalidade da diversidade de nossos ecossistemas, e, dessa forma, os esforços ainda devem ser concentrados em manter intacto o pouco que nos restou.
Anderson Cleiton José é professor adjunto do curso de engenharia florestal da Universidade Federal do Tocantins, Campus Universitário de Gurupi. Contato: acjose@uft.edu.br.
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