quinta-feira, 22 de julho de 2010

Destino do lixo e risco de colapso geram polêmica na Argentina




Buenos Aires não sabe mais o que fazer com seu lixo, ou pelo menos é isso que se tem discutido sobre o destino dos resíduos gerados na capital argentina, cujos lixões podem entrar em colapso nos próximos dois anos devido ao crescente aumento de materiais descartados.

Os números da empresa que administra o lixo da capital argentina (Ceamse) revelam que a produção de resíduos da cidade cresceu significativamente nos últimos cinco anos: de 1,4 milhão de toneladas produzidas em 2005 passou-se a 1,8 milhão em 2009, um aumento de 28,5%.

Como disse à Agência Efe María Eugenia Testa, diretora do Greenpeace na Argentina, o aumento, aliado à “falta de vontade política”, pode pôr em colapso em “dois ou três anos” o já abarrotado Norte III, aterro sanitário que recebe o lixo da cidade.

“É verdade que com sua capacidade atual, o aterro Norte III deve acumular sua capacidade máxima em dois ou três anos”, confirmou Alfredo Vega, porta-voz do Ceamse, sobre o principal lixão da cidade.

Cerca de 80% dos resíduos produzidos pela área metropolitana portenha – de aproximadamente 400 quilômetros quadrados e 11 milhões de habitantes – são jogados no Norte III, enquanto os 20% restantes são distribuídos entre nos aterros de González Catán e Enseada, ameaçados de fechamento por uma ordem judicial.

Os governos da cidade e da província de Buenos Aires chegaram a fechar um acordo, em 2008, para a criação de dois novos lixões que substituiriam os aterros sanitários atuais, mas até agora o projeto ainda não foi concretizado.

Segundo o Greenpeace, a vizinhança fez oposição ao plano, freando a implantação do projeto, principalmente depois das denúncias de contaminação da água nas casas situadas nos arredores dos depósitos.

Outra tentativa de solucionar o problema surgiu quando a Prefeitura promulgou uma lei, em janeiro de 2006, conhecida como Lixo Zero, que estabelecia metas de redução de 30% dos resíduos até 2010, na comparação com os índices de 2004.

“Ninguém está fazendo nada do que estipula a lei. É uma meta inalcançável”, declarou María Eugenia, lembrando dos resultados apresentados pela Ceamse.

Por outro lado, o departamento do Meio Ambiente da cidade considera que a lei está sendo cumprida, e que lembra que está sendo feita uma nova licitação para promover uma “gestão integral” dos serviços de coleta de resíduos.

“Há uma clara falta de vontade política, mas também de conscientização cidadã”, lamentou a representante do Greenpeace, acrescentando que a situação da cidade é “precária” e que os resíduos, principalmente os domiciliares, cresceram nos últimos anos.

Ela também comenta sobre os baixos índices de reciclagem na capital argentina, motivados pelo “pouco fomento público” e por entraves burocráticos. Recentemente, como exemplificou, a Prefeitura protagonizou um caso polêmico por não saber onde enterrar 10 toneladas de pilhas.

Ainda assim, a pouca reciclagem que se faz na cidade é feita pelas cooperativas de catadores de lixos, que reciclam e vendem os resíduos sólidos inorgânicos.

“Essas cooperativas representam um avanço de uma mudança cultural necessária para superar o enterro danoso de resíduos”, diz Marcelo Arbit, representante da Central de Movimentos Populares, entidade que agrupa 70 cooperativas de reciclagem de resíduos.
(FONTE: CLIPPING, jul/2010)

Catadores defendem criação de política para coleta seletiva de lixo

A criação de uma política que defina a coleta seletiva de lixo como uma obrigação nas cidades é uma das principais reivindicações dos catadores de lixo do país. A proposta também está entre as prioridades do Congresso Estadual de Catadores de Materiais Recicláveis, que começa nesta quinta-feira (22), no Rio de Janeiro. A partir das 8h, os catadores farão uma marcha pelo centro da cidade para marcar o início do encontro.

“A coleta seletiva não é uma política pública, como deveria ser, com orçamento e tudo direitinho para que fosse implantada de fato e ter os catadores como agentes dessa coleta seletiva, sendo remunerados por isso. A seleção do lixo hoje é de boa vontade por causa de algumas poucas pessoas”, explicou Alexandre Gordin, um dos coordenadores do Movimento Nacional de Catadores, no Rio.

Segundo o representante do movimento, muitas vezes os moradores fazem a separação dos resíduos em casa, mas a falta de infraestrutura para o recolhimento de forma seletiva faz com que todo o trabalho seja em vão. A expectativa é que, durante o encontro, que termina no próximo domingo (25), a categoria consiga mobilizar mais investimentos para coleta específica e treinamento dos trabalhadores.

O Brasil tem hoje quase 1,5 milhão de catadores de lixo. O estado do Rio tem cerca de 1.900 profissionais cadastrados em 38 diferentes pontos e os lixões costumam ser a principal fonte de renda desses trabalhadores. Segundo a Associação dos Catadores do Aterro Metropolitano do Jardim Gramacho, em Duque de Caxias, na Baixada Fluminense, por exemplo, cada um dos seus trabalhadores ganha uma média de R$ 50 por dia.
(Fonte: Carolina Gonçalves/ Agência Brasil, jul/2010)

Resolução do Conama será piloto para reciclagem de embalagens

Até o final deste ano deverá estar pronta a resolução do Conselho Nacional do Meio Ambiente que trata do gerenciamento das embalagens usadas de óleos lubrificantes de veículos. O modelo que definirá normas e metas para a reutilização desses produtos servirá para a ordenação de todos os outros tipos de embalagens.

“Neste momento em que aguardamos a sanção da Política Nacional de Resíduos Sólidos, neste ano em que o Conama completa sua centésima reunião ordinária e neste momento em que o Brasil apresenta índice de crescimento semelhante à China, essa resolução que está em debate é muito representativa. Desenvolvimento significa riqueza, inclusão social, mas também significa lixo”, afirma o diretor do Conama, Nilo Diniz. Ele comenta que a indústria está cada dia mais responsável pelo destino de seus produtos e que isso se evidencia na capacidade técnica de seus representantes no Conselho Nacional do Meio Ambiente.

O Grupo de Trabalho – constituído pelo MMA, indústria, organizações governamentais e não governamentais, estados, municípios e empresas de reciclagem – reuniu-se nesta terça-feira (20) para formular a minuta que será submetida à apreciação da Câmara Técnica de Saúde, Saneamento Ambiental e Gestão de Resíduos e pela Câmara Técnica de Assuntos Jurídicos, e em seguida ao plenário do Conama. “Pela manhã, foi analisado o texto da Política Nacional de Resíduos Sólidos que será sancionada pelo presidente da República. E à tarde, o GT se dedicou ao debate da minuta”, informa o assessor técnico Adriano Gerin, do Ministério do Meio Ambiente. A preocupação dos participantes é checar a adequação do trabalho já realizado à nova política que deverá estar no Palácio do Planalto no início de agosto.

A avaliação poderá esticar um pouco o prazo previsto pelo Conama para bater o martelo a respeito da resolução. Mas os participantes acreditam que isso ainda possa acontecer neste ano. O interesse é amplo. “Esse é um novo mercado. Tem interesses econômicos, de preservação ambiental e de gerenciamento desses resíduos, que no Brasil não tem controle. E essa resolução vai servir de modelo para outras embalagens”, afirma o coordenador do GT, Ricardo Lopes Garcia, especialista em Resíduos Sólidos da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo.

O representante da Fiesp diz que a expectativa da indústria é que se atinja o máximo de reciclagem. O percentual de reaproveitamento, segundo ele, vai depender da resolução que está em discussão, pois “vai obrigar a todos os entes da cadeia produtiva a trabalharem em conjunto, fazendo um acordo para gerenciar esse material”. Ele comenta que o trabalho até agora realizado pelo GT “está totalmente adequado” à PNRS, até porque a sua aprovação já estava prevista.

Entre os grandes interessados na resolução, presente na reunião do Conama, estava o responsável pelas Relações Institucionais da Associação Brasileira da Indústria do Plástico, Gilmar do Amaral. Ele afirma que a logística reversa representa uma verdade para a indústria: “Isso é dinheiro. As embalagens são matéria-prima rica.” Ele explica que o plástico das embalagens de lubrificantes pode ser usado para fabricar novas embalagens ou para a fabricação de artigos como baldes e cestos de lixo. “O quanto vamos reciclar depende das metas a serem definidas.” O aproveitamento deverá ser gradual, de acordo com a evolução da organização das empresas, governos e sociedade em geral.
(Fonte: Cristina Ávila/ MMA, jul/2010)

Mosquito fora d’água

Um líquido atóxico projetado para ser aplicado em massas de água elimina algas e ainda mata várias espécies de mosquitos. Trata-se de um surfactante (ou tensoativo) que funciona ao mudar as características da superfície da água.

O produto foi desenvolvido pelo engenheiro químico Marcos Gugliotti por meio do Programa Fapesp Pesquisa Inovativa em Pequenas Empresas (PIPE) e foi testado em laboratórios da Universidade de São Paulo (USP) e da Superintendência de Controle de Endemias do Estado de São Paulo (Sucen).

Ao ser aspergido, o produto forma uma película na superfície da água reduzindo a tensão superficial do líquido. “É essa tensão que impede que os mosquitos afundem enquanto botam ovos na água. Sem ela, asas e patas ficam encharcadas e o inseto acaba afundando”, disse Gugliotti à Agência Fapesp.

Segundo ele, ao mudar as características da superfície da água a ação do mosquitocida é totalmente mecânica, uma vez que não conta com substâncias tóxicas.

“Se uma pessoa ou um animal beber água com a película, o produto não causará mal algum à saúde. Além disso, ele é inerte, ou seja, não reage com outras substâncias”, garantiu o pesquisador, que atualmente faz pós-doutorado no Instituto de Física do campus de São Carlos da USP.

O tensoativo também se mostrou um eficiente algicida. Por alterar as características físicas da superfície da água, o filme prejudica a flutuabilidade das algas que acabam afundando e morrendo. “Como o produto não rompe a membrana celular das algas, elas não derramam toxinas na água, como ocorre com alguns algicidas que destroem essas membranas”, afirmou. Os testes com as algas foram feitos no laboratório de São Carlos do Instituto Internacional de Ecologia (IIE).

O filme mosquitocita e algicida é biodegradável e se decompõe em um período de 48 horas, em média. Por isso, após esse tempo precisa ser renovado. Sua eficiência pôde ser verificada em lagos, reservatórios de água parada e em rios com fluxos lentos e laminares.

Para testar o surfactante, Gugliotti contou com o Laboratório de Mosquitos Geneticamente Modificados do Instituto de Ciências Biomédicas (ICB) da USP. Em 24 horas, o produto eliminou 94% das pupas macho e 86% das pupas fêmea da espécie Culex quinquefaciatus, o principal vetor da filariose ou elefantíase.

“Contra o Anopheles aquasalis, espécie comum em várias regiões do Brasil e que transmite a malária, a película se mostrou ainda mais eficaz. Em apenas duas horas o produto eliminou completamente as larvas e as pupas da espécie”, disse.

Em outro teste, realizado no Núcleo de Avaliação e Pesquisa do Serviço Regional de Marília (SP) da Sucen, o filme eliminou 98% das pupas do mosquito transmissor da dengue Aedes aegypti.

De acordo com Gugliotti, em testes toxicológicos o produto se mostrou inofensivo a peixes, crustáceos e moluscos. Aves aquáticas, como patos e gansos, também não foram afetados e conseguiram nadar normalmente sobre a película.

O cientista prevê que o filme poderá afetar de maneira colateral outras espécies de insetos que também botam ovos sobre a água. No entanto, esse efeito pode ser minimizado ao se restringir a aplicação em águas infestadas por insetos vetores de doenças.

O produto pode ser encontrado também na forma de pó. Um quilo do produto é suficiente para cobrir uma superfície de 10 mil metros quadrados. A mesma área pode ser preenchida com a aspersão de um litro do surfactante em sua versão líquida. Gugliotti procura agora parceiros interessados na produção e na comercialização da película. A estimativa é que o produto seja comercializado a R$ 22 o quilo.

Inspiração – O mosquitocida-algicida foi inspirado em outra película desenvolvida em 2005 em outro projeto apoiado pelo PIPE-Fapesp. O objetivo da época era reduzir as perdas de água por evaporação em reservatórios. Gugliotti obteve um produto que reduz em até 50% a taxa de evaporação de uma massa de água.

O pesquisador chegou a testar o antievaporante no espelho d’água do Congresso Nacional, em Brasília (DF), e recebeu destaque em reportagens na Agência Fapesp e na revista Pesquisa Fapesp.

“Em diversos testes feitos em tanques com o antievaporante, percebemos que havia inúmeros mosquitos mortos na água após a aplicação do produto”, contou Gugliotti, que realizou adaptações no antievaporante a fim de aumentar a eficiência do novo surfactante contra os insetos.

A função algicida também foi descoberta por acaso. O pesquisador estava visitando a unidade Semiárido da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), na cidade de Petrolina (PE), quando decidiu testar a película antievaporante em um tanque de pisicultura desativado. A água que estava verde ficou límpida em um intervalo de 24 horas.

O mesmo projeto rendeu ainda um terceiro produto, um redutor de manchas de óleo que pode ser aplicado em vazamentos de navios petroleiros ou de dutos.

A ideia do redutor de óleo surgiu quando o pesquisador observou que, ao ser aspergido, o antievaporante acabava aglutinando a sujeira superficial da água. A partir daí, Gugliotti adaptou a composição do produto a fim de direcioná-lo à contenção de óleo nas águas.

O antievaporante e o redutor de óleo já contam com pedidos de depósito de patente e o pesquisador espera entrar em breve com um novo pedido para o mosquitocida-algicida.
(Fonte: Fabio Reynol/ Agência Fapesp, jul/2010)