sexta-feira, 8 de janeiro de 2010

Corais



(FOnte: Folha de São Paulo, 08/01/2010)

Cabelos enrolados têm distribuição de queratina mais irregular

C. CLAIBORNE RAY
do New York Times

Pergunta: Meu filho, que tinha cabelos completamente lisos ao nascer, desenvolveu cabelos muito enrolados na puberdade. Isso ocorre porque os folículos capilares mudam de forma, talvez influenciados por mudanças hormonais?

Resposta: O formato do cabelo é ligado, há tempos, ao formato dos folículos capilares, e existem evidências de que a mudança hormonal pode afetá-los em estágios como a puberdade, gravidez e menopausa.

Quando a quimioterapia para matar células de câncer afeta outras células de rápido crescimento, como aquelas do folículo capilar, o cabelo mostra mudanças na textura e curvatura quando volta a crescer. A genética também afeta a textura do cabelo, assim como doenças metabólicas.

Um estudo de 2007 com cabelos lisos e enrolados, realizado pelo braço de pesquisa do conglomerado de cosméticos L'Oreal e publicado no "The International Journal of Dermatology", descobriu diferenças estruturais na distribuição de uma proteína chamada queratina no duto capilar, atribuindo a ela parte da influência sobre o formato do folículo capilar no bulbo antes da saída do fio.

Em cabelos enrolados, segundo o estudo, mais queratina se acumulava no lado côncavo da curva, enquanto no cabelo liso, as células de queratina estavam distribuídas igualmente. A substância do cabelo, dessa forma, parecia reter uma memória do bulbo reto ou em formato de gancho.

Os pesquisadores da L'Oreal também cultivaram bulbos capilares para observar o crescimento de cabelos no tubo de ensaio, e teorizaram que o tratamento por hormônios poderá, algum dia, ser empregado para alterar a textura dos cabelos.
(Fonte: Journal New York Times, 25/11/2009)

Maquiagem para olhos no Antigo Egito tinha virtudes medicinais



Além da estética, a maquiagem para os olhos no Antigo Egito tinha propriedades medicinais, como acabam de elucidar químicos franceses.
Há 4.000 anos, os egípcios misturavam frequentemente chumbo à maquiagem para os olhos. Naquela época, os médicos gregos e romanos afirmavam que este metal era benéfico para os olhos.

Hoje em dia, o chumbo é mais conhecido por ser um metal potencialmente tóxico.

Para entender melhor este uso do chumbo como cosmético, a equipe de pesquisadores coordenada por Christian Amatore avaliou o impacto de uma escassa quantidade de chumbo em uma célula da pele.

Os pesquisadores constataram que em doses ínfimas, o chumbo não mata a célula. Induz a produção no organismo de uma molécula, o monóxido de azoto, conhecida por ativar o sistema imunológico.

Assim sendo, a aplicação desta maquiagem com chumbo pode provocar um mecanismo de defesa que, em caso de infecção dos olhos, limita a proliferação das bactérias.

O estudo coordenado por Amatore foi publicado antecipadamente nesta quinta-feira na edição on-line da revista especializada "Analytical Chemistry" do dia 15 de janeiro.

Para a demonstração, os pesquisadores utilizaram laurionita, um cloreto de chumbo que está entre os sais sintetizados pelos egípcios daquela época, para observar sua ação em uma célula isolada da pele com a ajuda de ultramicroeletrodos, uma ferramenta eletroquímica moderna miniaturizada que permite analisar sinais muito fracos emitidos por uma única célula.

Após colocar ínfimas quantidades de solução de laurionita na célula de pele, os pesquisadores observaram uma superprodução de dezenas de milhares de moléculas de azoto (NO). O azoto intervém como mensageiro do sistema imunitário ao estimular a chegada de macrófagos, células que atuam como limpadores do organismo ao ingerir bactérias vivas e resíduos diversos.

Assim, em vez de ser tóxica, a ínfima quantidade de chumbo misturada à maquiagem protegia os olhos de infecções bacterianas, segundo o estudo.
(Fonte: France Presse,09/12/2009)

Tarântulas podem soltar pelos que causam irritação nos olhos

DENISE GRADY
do New York Times

Quando um homem de 29 anos entrou numa clínica de oftalmologia inglesa reclamando de um olho muito dolorido, úmido e vermelho, os médicos inicialmente suspeitaram de um vírus.

Então eles analisaram mais de perto, e descobriram algo bastante diferente: finas projeções, como fios de cabelo, incrustadas na córnea do paciente.

Assim que os médicos, do Hospital da Universidade St. James, em Leeds, disseram ao paciente o que haviam visto, ele se lembrou do que havia ocorrido logo antes de começarem os problemas em seu olho. Ele limpava o aquário de sua tarântula de estimação, quando ela repentinamente liberou "uma névoa de pêlos", que o atingiu nos olhos e no rosto.

Acontece que algumas espécies de tarântulas possuem uma arma defensiva chamada "pêlos urticantes", que podem empregar quando ameaçadas. Esfregando suas pernas traseiras contra seu abdômen, as tarântulas liberam uma nuvem desses minúsculos cabelos, que contêm diversas farpas e podem causar uma tremenda irritação nos olhos, pele e vias aéreas de qualquer criatura desafortunada que chegar perto demais.

Os pêlos eram finos demais para ser retirados da córnea do paciente, mesmo com micropinças sob um microscópio. Tudo que os médicos podiam fazer era tratar a inflamação em seu olho com medicamentos de esteróides. Quase um ano depois, o homem está muito melhor, mas não completamente recuperado. Num relatório de caso intitulado "Olho do Homem Aranha" publicado no "The Lancet", um jornal médico, seus médicos sugerem que "donos de tarântulas sejam alertados a usar proteção ocular ao lidar com esses animais".
(Fonte: JOurnal New York Times, 07/01/2010)

Biólogo vê esquema de punição social em relação entre peixes

RICARDO BONALUME NETO
da Folha de S. Paulo



Um experimento feito em aquário revelou que um pequeno peixe de recife de coral do Pacífico age como o marido machista cuja mulher deixou queimar a comida: dá uma coça na patroa.

O trabalho revelou um caso raro de punição por terceira pessoa, na qual um indivíduo não envolvido na ofensa pune o perpetrador, apesar de a vítima não ser ele próprio.

O agressor em questão é o bodião-limpador, que se alimenta de pequenos parasitas no corpo de peixes maiores. Esses "clientes" fazem até fila para que sejam limpos pelos bodiões, num processo benéfico às duas partes: o mutualismo.

Apesar de comer pequenos crustáceos parasitas, porém, o limpador gosta ainda mais de comer o muco que recobre o peixe maior. Só que, quando isso acontece, o cliente se afasta.

Um casal de bodiões pode trabalhar junto na limpeza. O experimento agora mostrou que, se o macho perde o jantar após a fêmea morder o cliente, ele a pune mandando a moça para longe da área de limpeza.
Trapaça pela ciência

O experimento usou uma placa de acrílico para simular o cliente. Um lado da placa tinha comida mais atraente, pequenos camarões, que simulavam o muco.

Só que, cada vez que a fêmea comia um camarão, a placa era tirada do aquário e o macho também perdia seu jantar. Como resultado, nadava agressivamente atrás da fêmea.

Os biólogos também notaram que a fêmea, depois de comer um camarão e ter a placa removida, tendia a evitar a comida melhor quando a placa era recolocada depois.

"A evolução da punição é fácil de entender, nós praticamente mostramos porque ela ocorre", disse à Folha Redouan Bshary, da Universidade de Queesland (Austrália), um dos autores de estudo sobre o bodião que sai nesta sexta-feira (8) na revista "Science".

"Os machos são "vítimas secundárias" quando a fêmea engana um cliente comum. Se o cliente parte, os machos perdem tempo em busca de comida e, por isso, reagem agressivamente", explica ele.

Ao tornar as fêmeas mais cooperativas em interações futuras, os machos têm benefício direto, pois poderão se alimentar por mais tempo nos clientes futuros.

E, se der vontade de enganar o cliente, quem dará a beliscada no muco será o macho. As fêmeas só não reagem a essa injustiça porque são mesmo menores e mais fracas.

Bshary e seus colegas afirmam no estudo que o estabelecimento desse tipo de punição contra perdas pessoais pode ter sido um passo evolutivo no aparecimento da punição exemplar de malfeitores, como acontece com seres humanos.
(Fonte: Folha de São Paulo, 08/01/2010)