sexta-feira, 8 de agosto de 2014

Pesquisa detecta bactérias e fungos em 62,5% de passarinhos traficados

As campanhas educativas para desestimular a compra de animais silvestres comercializados ilegalmente ganharam um reforço em seus argumentos com um estudo concluído recentemente na Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia (FMVZ) da Universidade de São Paulo (USP).
A pesquisa “Caracterização da microbiota intestinal bacteriana e fúngica em passeriformes silvestres confiscados do tráfico que serão submetidos a programas de relocação”, desenvolvida com Auxílio à Pesquisa da FAPESP, encontrou microrganismos com potencial patogênico – que podem apresentar risco à saúde humana e animal – em 62,5% de 253 amostras de material coletado na cloaca (órgão por onde as aves eliminam as fezes e a urina e põem os ovos) de 34 espécies de passarinhos silvestres resgatadas do tráfico de animais e encaminhadas ao Departamento de Parques e Áreas Verdes de São Paulo (Depave) para avaliação, reabilitação e relocação no ambiente.
Segundo dados da Rede Nacional de COMBATE ao Tráfico de Animais Silvestres (Renctas), as aves são o principal alvo do comércio ilegal de animais. Os passeriformes silvestres (pássaros nativos com pequenas dimensões como sabiás, canários, curiós, entre outros) são os mais traficados, seguidos por papagaios, araras e demais gêneros.
Estima-se que 90% das aves capturadas para tráfico morram antes de chegar ao destino final. Quando resgatadas por órgãos fiscalizadores, muitas já se encontram com a saúde debilitada por causa de condições sanitárias inadequadas na captura, no transporte e na manutenção em cativeiro.
“A pesquisa de alguns microrganismos como Salmonella spp., Cryptococcus spp. e Candida spp. é prevista na lista de exames sanitários recomendados pela Instrução Normativa 179 do Ibama [Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e Recursos Naturais Renováveis]”, disse Priscilla Anne Melville, do Departamento de Medicina Veterinária Preventiva e Saúde Animal da FMVZ, responsável pelo estudo. “No entanto, quisemos fazer um estudo mais abrangente para descobrir quais outros patógenos podem ser carreados por esses animais.”
O trabalho contou com a participação dos pesquisadores da FMVZ/USP Nilson Roberti Benites, Paulo Eduardo Brandão, André Becker Simões Saidenberg, Patrícia Braconaro e Eveline Zuniga e das veterinárias do Depave Adriana Joppert da Silva, Thaís Sanches e Ticiana Zwarg.
De acordo com os pesquisadores, o material coletado na cloaca das aves é mais preciso como indicador da microbiota intestinal do que as fezes, já que, em condições normais, os microrganismos presentes ali são oriundos somente do trato intestinal. Já a análise das fezes pode levar a falsos resultados pela contaminação do material por bactérias presentes no ambiente.
Segundo Melville, exames de verificação de ocorrência e frequência de fungos e bactérias mostraram que em 158 (62,5%) das 253 amostras havia presença de microrganismos. Em 123 delas (77,84%) havia somente bactérias; em outras quatro somente fungos; e em 31 fungos e bactérias.
“Foram isolados ao menos 15 gêneros de bactérias, três gêneros de leveduras e quatro gêneros de fungos filamentosos. Alguns deles apresentam potencial zoonótico, ou seja, podem causar doenças em humanos e em animais e alguns desses apresentaram resistência a determinados antimicrobianos”, disse Melville à Agência FAPESP.
Microrganismos mais encontrados – Foram encontradas 13 espécies de Staphylococcus spp. em 38 amostras. O gênero Micrococcus spp. foi localizado em 29 amostras, enquanto Klebsiella spp. e Escherichia coli estavam em 27 amostras, cada.
Em testes de suscetibilidade a diferentes antibióticos e quimioterápicos, essas bactérias apresentaram multirresistência a determinados antimicrobianos. Foram encontradas ainda as bactérias Enterococcus spp.(em 11 amostras); Enterobacter spp. (10); Streptococcus spp. (8) e Citrobacter spp. (7).
“Cada microrganismo tem suas peculiaridades e causa doenças específicas. As bactérias Escherichia coli, por exemplo, podem estar associadas a distúrbios gastrointestinais. Espécies de Staphylococcus podem estar associadas a infecções cutâneas, sinusites, artrites e pneumonias. A transmissão se dá principalmente por meio do contato com as fezes do animal, com posterior ingestão acidental ou mesmo inalação de material contaminado”, afirmou a pesquisadora.
Alguns microrganismos encontrados no estudo ainda não haviam sido mencionados em trabalhos semelhantes. Entre eles, há a Rhodotorula spp. (levedura oportunista que pode causar doença em paciente imunossuprimido), Edwardsiella (bactéria associada a meningites e gastroenterites, entre outras) e Pasteurella multocida (agente associado à cólera aviária).
O estudo confirmou a presença de fungos filamentosos e leveduras encontrados em estudos anteriores, de outros autores, tais como Candida spp. (fungo associado a distúrbios gastrointestinais e respiratórios), Penicillium spp. (fungo associado a doenças como ceratites, endocardites, entre outras), Mucor spp. (fungo que pode acometer pacientes imunossuprimidos, causando infecções no trato respiratório e gastrointestinal, no sistema nervoso ou na pele), Aspergillus spp. (fungo que acomete principalmente o trato respiratório de aves), eTrichosporon spp. (patógenos oportunistas que podem acometer pacientes imunossuprimidos).
A pesquisa revelou ainda que é baixo o risco de transmissão de microrganismos sugeridos para investigação pela Instrução Normativa do Ibama como Salmonella spp.Cryptococcus spp. (ausentes nas amostras) eCandida spp. (baixa ocorrência).
Também é baixo o risco de transmissão para humanos, pelas aves avaliadas, de bactérias E.coli como a Escherichia coli enteropatogênica (EPEC), Escherichia coli patogênica aviária (APEC) e Escherichia coli uropatogênica (UPEC). Por outro lado, há risco de transmissão intra ou interespécies ou introdução no ambiente de E.coli multirresistentes a antimicrobianos.
Bactérias resistentes – A investigação da microbiota intestinal das aves antes do processo de soltura é importante, pois pode esclarecer sobre possíveis riscos relativos à presença de resistência bacteriana aos antimicrobianos. “Ao serem eliminadas no ambiente, as bactérias multirresistentes a antimicrobianos podem se multiplicar e infectar diferentes hospedeiros, disseminando a resistência antimicrobiana entre as bactérias”, explicou Melville.
“Isso pode levar ao desencadeamento de doenças de difícil tratamento, já que a resistência antimicrobiana reduz as possibilidades terapêuticas. Por outro lado, muitas bactérias podem se tornar resistentes a um antimicrobiano, mesmo sem nunca terem tido contato com o mesmo”, disse a pesquisadora.
O alerta deve ser considerado principalmente quando se leva em conta que grande parte dos indivíduos que adquirem animais traficados mantém as aves como animais de estimação em suas residências.
“As pessoas devem ter ciência que podem ser contaminadas por determinados agentes bacterianos, virais e fúngicos transportados pelos animais traficados, especialmente os grupos de risco – idosos, crianças e pessoas imunossuprimidas ou que são submetidas a algum tratamento imunossupressor”, disse Melville.
Saidenberg esclareceu que, mesmo em liberdade, aves podem hospedar microrganismos com potencial para causar doenças na própria espécie, em outros animais e em humanos. No entanto, em geral, observa-se um equilíbrio entre o microrganismo e o hospedeiro como parte de um processo de coevolução e que também atua sobre o controle populacional.
A presença de determinado microrganismo não representa obrigatoriamente que a doença se manifeste. “No entanto, quando são traficadas, esse equilíbrio pode ser alterado em razão dos elevados níveis de estresse, das péssimas condições de higiene e alimentação inadequada a que são submetidos os animais, o que pode acarretar o desencadeamento de doenças infecciosas causadas por microrganismos com os quais estavam anteriormente em equilíbrio”, disse Saidenberg.
Legislação – Embora a legislação brasileira determine que animais silvestres só possam ser criados se adquiridos de criadores autorizados e que possuam documentação de comprovação de origem, somente em São Paulo, a Polícia Militar Ambiental apreendeu ou resgatou mais de 187 mil animais silvestres do tráfico de animais nos últimos 10 anos.
De 2006 a 2012, 82% dos animais confiscados do tráfico eram aves. Segundo dados do Ibama, a maioria dos pássaros silvestres comercializados ilegalmente vem das regiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste e os estados com o maior mercado consumidor estão na região Sudeste: São Paulo, Minas Gerais e Rio de Janeiro.
As espécies apreendidas em maior quantidade no período do estudo foram pixarro (Saltator simillis), canário-da-terra (Sicalis flaveola), galo-de-campina (Paroaria dominicana), coleirinho-paulista (Sporophila caerulescens), azulão (Cyanoloxia brissoni) e pássaro-preto (Gnorimopsar chopi), segundo os pesquisadores. (Fonte: Agência FAPESP)

Proliferação de algas tóxicas deixa cidade sem água potável nos EUA

ma proliferação de algas no lago Erie deixou milhares de pessoas sem água por dois dias na cidade de Toledo, em Ohio (EUA).
Na imagem feita por satélite é possível ver uma mancha verde na água azul do lago, no canto inferior esquerdo.
O prefeito da cidade proibiu o consumo da água, na última segunda-feira (4), depois de dois dias em que os moradores foram avisados de que a água da estação de tratamento foi contaminada com uma toxina produzida pela alga de água doce Microcystis. A estação de tratamento atende 500 mil cidadãos em Toledo.
Se ingerida, a toxina provoca sintomas como tontura, vômito e dormência. Embora não haja relatos de mortes de seres humanos, ela também pode causar danos ao fígado, de acordo com o escritório de Avaliação de Risco de Saúde Ambiental (OEHHA), na Califórnia. Animais de estimação e criaturas selvagens morreram por conta da toxina, de acordo com OEHHA.
Ferver a água não remove as toxinas, por isso os moradores estão fazendo fila nas lojas e centros de distribuição em busca de água engarrafada. Agricultores de fora da cidade têm bombeado água de poço e levado para a cidade para dar de graça aos vizinhos, de acordo com a imprensa local.
A proliferação de algas acontece pelo escoamento de fertilizantes, o que traz de nitrogênio e fósforo na água. (Fonte: UOL)

sábado, 22 de março de 2014

Carne frita ou assada aumenta risco de demência, diz estudo

O cozimento de carne no forno, na grelha ou em frigideira libera substâncias químicas que podem aumentar orisco de desenvolver demência, sugerem pesquisadores norte-americanos.
Os chamados Produtos de Glicação Avançada (os AGE, da sigla inglesa Advanced Glycation Endproducts) têm sido associados a doenças como a diabetes tipo 2.
Ratos alimentados com uma dieta rica em AGEs apresentaram acúmulo de proteínas perigosas no cérebro e tiveram a função cognitiva prejudicada.
Especialistas afirmaram que os resultados são ‘convincentes’, embora não forneçam ‘respostas definitivas’.
AGEs são formadas quando proteínas ou gorduras reagem com açúcar. Isso pode acontecer naturalmente ou durante o processo de cozimento.
Pesquisadores da Icahn School of Medicine at Mount Sinai, em Nova York, testaram o efeito da AGEs em camundongos e pessoas.
experiência com animais, divulgada na publicação Proceedings of the National Academy of Sciences, mostrou que uma dieta rica em AGEs afeta a química do cérebro.
Isso leva a um acúmulo de proteína defeituosa beta-amilóide – uma característica da doença de Alzheimer. Os ratos que comeram uma dieta baixa em AGEs foram capazes de impedir a produção da proteína.
Por outro lado, os ratos realizaram bem menos tarefas físicas e mentais depois de dietas ricas em AGEs.
Uma análise de curto prazo de pessoas com mais de 60 anos sugere uma ligação entre altos níveis de AGEs no sangue e o declínio cognitivo.
Tratamento eficaz – O estudo concluiu: ‘Relatamos que a demência relacionada à idade pode ser causalmente associada a altos níveis de alimentos com Produtos de Glicação Avançada .
‘O mais importante, a redução da AGEs derivados de alimentos, é viável e pode ser uma estratégia de tratamento eficaz.’
Derek Hill, professor da University College London, comentou: ‘Os resultados são convincentes.’
‘Como a cura para a doença de Alzheimer continua a ser uma esperança distante, os esforços para evitá-la são extremamente importantes, mas este estudo deve ser visto como incentivador à continuidade dos trabalhos de pesquisa, mesmo sem fornecer respostas definitivas.’
‘Mas isso é motivo para otimismo – o estudo acrescenta evidências e sugere que o uso de estratégias de prevenção pode reduzir a incidência da doença de Alzheimer e outros tipos de demência na sociedade, o que poderia ter um impacto muito positivo em todos nós.’
Simon Ridley, da organização Alzheimer’s Research UK, disse: ‘Diabetes havia sido previamente associada a um risco maior de demência, e este pequeno estudo fornece uma nova visão sobre alguns dos possíveis processos moleculares que podem ligar as duas condições.’
‘É importante notar que as pessoas envolvidas neste estudo não sofrem de demência. Como o tema ainda não foi suficientemente estudado, nós ainda não sabemos como a quantidade de AGEs em nossa dieta pode afetar o nosso risco de demência.’ (Fonte: G1, 27/02/2014)

Vírus gigante de 30 mil anos ‘volta à vida’

Um vírus que estava adormecido há 30 mil anos teria ”ganhado vida” novamente, segundo cientistas da Universidade de Aix-Marseille, na França.
Ele foi encontrado na Sibéria, em uma camada profunda de permafrost, o solo encontrado na região do Ártico formado por terra, gelo e rochas permanentemente congelados. Após ter sido descongelado, o vírus voltou a se tornar contagioso.
Os cientistas afirmam que não há risco de o contágio representar algum perigo para humanos ou animais, mas alertaram para o possível risco para humanos de outros vírus infecciosos que podem ser liberados com o eventual descongelamento do permafrost.
O estudo foi divulgado na publicação especializada Proceedings of the National Academy of Sciences (PNAS).
”Essa é a primeira vez que vemos um vírus permanecer contagioso após tanto tempo”, disse o professor Jean-Michel Claverie, da Centro Nacional de Pequisa Científica (CNRS, na sgila orginal em francês), da Universidade de Aix-Marseile.
Enterrado – O antigo vírus foi descoberto enterrado a trinta metros do solo congelado.
Chamado Pithovirus sibericum, ele pertence a uma categoria de vírus descoberta há dez anos.
Eles são tão grandes que, diferentemente de outros vírus, podem ser vistos ao microscópio. E este, que mede 1,5 micrômetros de comprimento, é o maior já encontrado.
A última vez que ele infectou um organismo foi há mais de 30 mil anos, mas no laboratório ele foi ‘reativado’.
Os testes mostraram que o vírus ataca amebas, que são organismos monocelulares, mas não infecta humanos ou animais.
”Ele entra na célula, se multiplica e, por fim, mata a célula. Ele é capaz de matar a ameba, mas não infecta umacélula humana”, afirmou Chantal Abergel, co-autora do estudo e também integrante do CNRS.
Mas os pesquisadores acreditam que outros agentes patogênicos mortais possam ter ficado presos no permafrost da Sibéria.
”Estamos estudando isso por meio de sequenciamento do DNA que está presente nessas camadas. Essa é amelhor maneira de descobrir o que existe de perigoso nessas camadas”, afirmou Abergel.
Ameaça – Os pesquisadores dizem dizem que essa região está ameaçada. Desde a década de 70, o permafrost vem perdendo sua espessura e projeções de mudanças climáticas sugerem que ele irá recuar ainda mais.
Como ele vem se tornando mais acessível, o permafrost já está sendo, inclusive, visado como fonte de recursos, devido aos ricos recursos naturais que possui.
Mas o professor Claverie adverte que expor camadas profundads poderá criar novas ameaças de vírus.
”É uma receita para o desastre”, afirmou. Segundo ele, a mineração e a perfuração farão com que as antigas camadas sejam penetradas ”e é daí que vem o perigo”.
Ele disse à BBC que antigas variantes de varíola, que foi erradicada há 30 anos, poderiam se tornar ativas novamente.
”Se for verdade que esses vírus sobrevivem da mesma maneira que vírus da ameba sobrevivem, então a varíola pode não ter sido erradicada do planeta, apenas de sua superfície”, afirmou Claverie.
Mas ainda não está claro se todos os vírus podem se tornar ativos novamente, após terem permanecido congelados por milhares ou mesmo milhões de anos. (Fonte: G1, 05/03/2014)

Veneno de caracol marinho pode se tornar analgésico potente

Uma pequena proteína extraída do veneno do caracol marinho conus parece promissora para produzir analgésicos mais potentes que a morfina, com menos efeitos colaterais e menor risco de dependência, segundo trabalhos de pesquisadores australianos apresentados neste domingo nos Estados Unidos.
Os especialistas criaram ao menos cinco novas substâncias experimentais a partir desta proteína que podem conduzir algum dia ao desenvolvimento de analgésicos orais eficazes para tratar algumas dores crônicas.
“Trata-se de um passo importante que pode servir de base ao desenvolvimento de uma nova classe de medicamentos capazes de aliviar as formas mais severas de dores crônicas atualmente muito difíceis de tratar”, explicou David Craik, da Universidade de Queensland, na Austrália, autor principal da pesquisa.
O estudo foi apresentado na conferência anual da Sociedade Americana de Química (ACS, em inglês), reunida neste fim de semana em Dallas, Texas (sul).
As dores combatidas por estes medicamentos são provocadas frequentemente por diabetesesclerose múltipla e por outras doenças que afetam as terminações nervosas, que podem durar meses ou até mesmo anos.
Os tratamentos atuais para estas dores crônicas neuropáticas podem causar efeitos colaterais significativos e são eficazes em apenas um de cada três doentes.
Os conus (caracóis marinhos de águas tropicais) utilizam seu veneno para paralisar suas presas. Este veneno contém centenas de peptídeos, que são pequenas proteínas conhecidas como conotoxinas. Nos humanos, algumas destas conotoxinas parecem ter efeitos analgésicos, explicou o pesquisador. (Fonte: Terra. 19/03/2014)

Proteína produzida no tecido adiposo é gatilho para inflamação que causa diabetes

Já está bem estabelecida na literatura científica a relação entre obesidade – principalmente gordura visceral –, inflamação sistêmica crônica e o desenvolvimento de distúrbios metabólicos como diabetes.
Em artigo publicado em março na revista Cell Metabolism, pesquisadores da Harvard University, nos Estados Unidos, descreveram o papel de uma proteína secretada pelo tecido adiposo e pelo fígado – a RBP4 – na ativação das células de defesa produtoras de substâncias inflamatórias e na consequente indução daresistência à insulina.
“Mostramos que a RBP4, uma proteína encontrada em concentrações duas ou três vezes mais altas em obesos e diabéticos, funciona como gatilho para a inflamação no tecido adiposo. Essa molécula é, portanto, um alvo para novos medicamentos”, disse o brasileiro Pedro Moraes-Vieira, autor principal do artigo.
Moraes-Vieira cursou mestrado e doutorado na Universidade de São Paulo (USP) com apoio da FAPESP. Atualmente, realiza pós-doutorado em Harvard sob a supervisão de Barbara Kahn, professora da Divisão de Endocrinologia.
De acordo com o pesquisador, acreditava-se até a década de 1990 que a única função da proteína RBP4 no organismo era transportar vitamina A. No entanto, estudos epidemiológicos recentes com humanos indicaram haver correlação entre resistência à insulina, inflamação sistêmica e concentrações elevadas de RBP4.
Em 2005, uma pesquisa coordenada por Kahn e feita com camundongos mostrou que a expressão da proteína RBP4 aumentava à medida que animais sadios se tornavam resistentes à insulina.
“Até esse momento, não estava claro o mecanismo pelo qual a elevação da RBP4 induzia o distúrbio metabólico. Nosso estudo tinha o objetivo de entender como essa proteína poderia modular a inflamação, principalmente no tecido adiposo”, explicou Moraes-Vieira.
Para fazer a investigação, o grupo usou um modelo de camundongos transgênicos capazes de expressar a proteína RBP4 nas células musculares. “Nossos animais apresentavam o mesmo grau de elevação na concentração sanguínea de RBP4 observado em humanos obesos ou diabéticos, ou seja, cerca de três vezes maior que o normal. Os camundongos transgênicos tornavam-se diabéticos por volta da sexta semana de vida, embora permanecessem magros”, contou Moraes-Vieira.
Enquanto nos ratos a elevação da RBP4 era resultante da transgenia, no caso dos humanos acredita-se que possa ser causada pelo aumento do tecido adiposo visceral ou pelo estresse metabólico provocado pelo acúmulo de gordura no fígado, explicou o pesquisador.
As análises – Quando os animais transgênicos completaram de oito a dez semanas de vida, os pesquisadores mediram o índice de massa corpórea (IMC), a porcentagem de gordura e de massa magra, as concentrações de ácidos graxos e colesterol no sangue e fizeram testes de tolerância à glicose e à insulina.
Ao comparar os resultados com os do grupo controle, formado por camundongos com concentrações normais de RBP4, o grupo transgênico apresentou diferença apenas nos testes de tolerância à glicose e à insulina, que confirmaram o diabetes.
Após o sacrifício dos roedores, os pesquisadores avaliaram a presença de substâncias inflamatórias no tecido adiposo visceral e subcutâneo, no baço, nos linfonodos e no fígado.
“Observamos uma grande inflamação no tecido adiposo visceral, com ativação tanto de células do sistema imune inato quanto do sistema imune adaptativo. Vimos também uma inflamação moderada no fígado, com ativação apenas do sistema imune inato. Isso porque a RBP4 tende a se acumular mais no tecido adiposo”, contou Moraes-Vieira.
Por meio de uma técnica conhecida como citometria de fluxo – usada para contar, fenotipar, examinar e classificar células –, os pesquisadores analisaram os leucócitos presentes nos tecidos inflamados.
“A literatura científica relata a existência de dois tipos de macrófagos no tecido adiposo visceral – um pró-inflamatório e outro anti-inflamatório. Observamos que a proteína RBP4 faz com que macrófagos anti-inflamatórios também comecem a produzir citocinas pró-inflamatórias. Esse macrófago transformado ativa o sistema imune adaptativo e induz a produção de linfócitos T CD4 do tipo TH1”, contou Moraes-Vieira.
De acordo com o pesquisador, as células do tipo TH1 são especializadas em secretar uma substância inflamatória chamada interferon-gamma (IFN-γ). Em excesso, essa citocina interfere na sinalização dos adipócitos, ativa ainda mais os macrófagos e impede a ação eficiente da insulina.
Para testar a hipótese de que eram os macrófagos – considerada uma das células apresentadoras de antígenos (APCs, na sigla em inglês) – os responsáveis pela ativação do sistema imune adaptativo e a consequente indução da inflamação, o grupo realizou outro experimento.
“Isolamos células dendríticas de camundongos, que são um outro tipo de APC, as ativamos com RBP4 e as infundimos em camundongos sadios. Após seis semanas de infusões semanais, os animais ficaram diabéticos e desenvolveram inflamação no tecido adiposo visceral, com grande concentração de linfócitos do tipo TH1”, contou Moraes-Vieira.
Um terceiro experimento feito também com animais transgênicos revelou que uma via de sinalização celular mediada pela proteína JNK é fundamental para que o efeito inflamatório desencadeado pela RBP4 aconteça.
“Por meio de uma parceria com pesquisadores da University of Massachusetts, nos Estados Unidos, desenvolvemos um modelo de camundongo transgênico nocaute para a JNK [o gene responsável pela expressão da proteína foi silenciado] apenas nos macrófagos. Isolamos então os macrófagos pró-inflamatórios e anti-inflamatórios do tecido adiposo visceral desses animais e tratamos com RBP4, mas não ocorreu a ativação do sistema imune adaptativo. Ou seja, sem a via da JNK a inflamação não é desencadeada”, contou Moraes-Vieira.
Segundo o pesquisador, o papel-chave da RBP4 no desenvolvimento de diabetes tipo 2 em obesos já despertou o interesse da indústria farmacêutica.
“Há uma empresa investigando imunobiológicos potencialmente capazes de diminuir a concentração de RBP4 na circulação. Isso ajudaria a diminuir a inflamação no tecido adiposo e, teoricamente, melhoraria a resistência à insulina”, afirmou. (Fonte: Agência FAPESP, 22/03/2014)

quinta-feira, 16 de janeiro de 2014

Mancha aparece no mar do Leme, no Rio, nesta quarta-feira

Técnicos do Instituto Estadual do Ambiente (Inea) examinarão na quinta-feira (2) a mancha acastanhada que avançou pelo mar do Leme nesta quarta-feira (1º/01/2014), informou o gerente de qualidade do instituto, Leonardo Daemon. Ele quer confirmar que se trata da mesma mancha que apareceu no sábado (28) no mar de Copacabana, na Zona Sul do Rio, informou. O resultado, segundo o Inea, sai ainda nesta quinta.
Segundo explicou, a mancha verificada sábado é resultado de uma floração da alga espécie Tetraselmis sp, que cresce a partir de material orgânico encontrado no mar.
“A maré vazante deve ter trazido muito material orgânico, e o calor ajudou na floração da alga”, explicou. (Fonte: G1, 16/jan/2014)

Cor esverdeada da água das praias da zona sul do Rio não oferece risco à saúde, diz Inea

Muita gente que foi à praia nesta quarta-feira (15) em Ipanema, bairro da zona sul carioca, ficou preocupada com a coloração da água. A cidade teve mais um dia de sol forte e temperatura superior a 38 graus Celsius (ºC), de acordo com o Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet).
Segundo o Instituto Estadual do Ambiente (Inea), a mancha verde avistada pela manhã em Ipanema pode ter sido causada por fragmentos da macroalga Ulva sp, uma espécie muito comum e que não oferece risco à saúde dos banhistas. Essas algas normalmente são trazidas do costão pelo mar e acabam sendo levadas para a costa pela variação da maré.
Os técnicos do Inea percorreram a orla do Leblon ao Arpoador pela manhã e à tarde, mas encontraram apenas alguns fragmentos da alga na Praia do Diabo, no Arpoador, que foram coletados e identificados para análise. As vistorias também serão feitas
nesta quinta (16) e na sexta-feira (17).
No início do mês, uma espuma amarelada atingiu todo o litoral do Rio, da Barra da Tijuca às praias da zona sul. O Inea informou na ocasião que a espuma é um fenômeno natural causado pela decomposição de algas.

“Florações de algas são comuns no verão e resultam de fatores como temperatura e insolação elevadas, combinadas com mar calmo e nutrientes na água. Quando as algas entram em decomposição, dependendo das condições oceanográficas e de clima, pode ocorrer a formação de espuma”, informou o Inea. (Fonte: Agência Brasil, jan/2014).