domingo, 3 de janeiro de 2010

Fazer o bem serve aos outros e a si mesmo

Tempo, dinheiro e até mesmo o sangue do cachorro: é possível doar de tudo um pouco a quem mais precisa

FILIPE VILICIC


Há diversas formas de ajudar o próximo. Que tal ser voluntário em uma ONG perto de sua casa? Dá também para doar roupas, alimentos e produtos de higiene para abrigos, creches e instituições beneficentes (e nem precisa sair de casa para isso). Sabia que seu sangue pode salvar vidas, não é? E que o do seu cachorro também? Enfim, relacionamos caminhos para quem quer se tornar mais solidário. Há, por exemplo, mais de 300 mil ONGs no Brasil, segundo a Associação Brasileira de Organizações Não-Governamentais, que podem contar com seu auxílio.

ALEGRE CRIANCINHAS DOENTES

Quando o engenheiro Antonio Silva, o Tony, entra na ala pediátrica da Santa Casa de Misericórdia, na Vila Buarque, a criançada fica toda animada. "Tio, lê uma história para mim", pede, ansioso, o garoto Felipe Dias, de 6 anos, que, no dia 14 de dezembro, completava oito dias de internação. "É a quinta vez que ele passa por aqui esse ano", conta a mãe do garoto, a auxiliar de controle de qualidade Daniela de Souza. "Sempre fica triste quando sabe que tem de vir para cá. Seu único motivo de alegria é saber que o Tony virá para lhe contar histórias."

Tony é um dos mais de mil voluntários da organização Viva e Deixe Viver. Essa tropa lê histórias para crianças internadas em 74 hospitais de 20 cidades. "É incrível ver um menino que estava todo triste na UTI abrir um sorrisão quando nos vê chegando", relata Tony, que começou a narrar livros infantis na Santa Casa há oito anos.

Para se tornar um voluntário da Viva e Deixe Viver é preciso passar por um processo de seleção e um treinamento de oito meses. A próxima seletiva começará em fevereiro e abrirá 500 vagas. Candidate-se no site www.vivaedeixeviver.org.br. Outras instituições, a exemplo do Canto Cidadão (www.cantocidadao.org.br) e da Associação de Assistência à Criança Deficiente, a AACD (www.aacd.org.br), também têm programas de voluntariado.

VOLUNTARIADO

Quer ajudar, mas não sabe como e nem onde? Procure o Centro do Voluntariado de São Paulo (CVSP). Essa organização, localizada na Avenida Paulista, reúne 820 instituições que aceitam voluntários na Grande São Paulo. No site do centro (www.voluntariado.org.br) dá para procurar por iniciativas perto de sua casa.

O CVSP organiza palestras e oficinas de orientação para pessoas que querem aderir a um programa de voluntariado (3266-5477). "Ajudar o próximo de forma gratuita é, além de uma demonstração de cidadania, uma forma de mudar a sociedade, em vez de só ficar reclamando dos problemas da cidade", afirma a diretora do centro, Anísia Villas Boas Sukadolnik. "E hoje há formas diferentes de colaborar. Um administrador, por exemplo, pode gerenciar uma ONG."

DOE SEM SAIR DE CASA

Para abrir sua empresa, a paulistana Helena Leitão primeiro fez uma pesquisa de mercado, distribuindo formulários para amigos, colegas e quem passava na rua. Ela queria saber se as pessoas doavam, se queriam doar e, se não doavam, o motivo de não colaborarem. Helena descobriu que a maioria dos paulistanos ouvidos por ela queria ajudar o próximo, mas não faziam isso por preguiça, falta de tempo ou por não conhecer uma instituição que mereça o auxílio. E, após essa conclusão, teve a ideia: "Vou criar um site que vende e entrega doações para esses indivíduos que não sabem como ajudar o mundo."

Assim nasceu o Heróis da Cidade (www.heroisdacidade.com.br). "O cliente compra cestas de produtos, como arroz, leite e açúcar, e eu levo para organizações confiáveis que visito quase todos os meses", explica Helena. É uma espécie de delivery de doações. "Cobro pelo serviço de entrega, mas, no fim, as mercadorias não saem tão mais caras do que se fossem compradas no supermercado, já que tenho desconto por adquirir em atacado." Há 11 organizações paulistanas cadastradas, como o Projeto Arrastão e o Centro Assistencial Maria Helena Paulina, e o comprador opta com quem quer colaborar.

Mas como saber se a doação foi entregue? "Mando comprovantes mensais, com notas fiscais e fotos, que mostram ao cliente que os produtos foram comprados e levados à organização escolhida", diz Helena.

DÊ SEU SANGUE PARA ALGUÉM QUE PRECISA

Anualmente, são coletadas mais de 3 milhões de bolsas de sangue no País. No Estado de São Paulo, são 800 mil. Na capital paulista, esse número passa de 300 mil. "Mas nunca temos o suficiente para atender à demanda", conta o médico Carlos Roberto Jorge, da Fundação Pró-Sangue, que administra quatro postos de coleta na Grande São Paulo.

No Brasil, 2,16% da população doa sangue. De acordo com a Organização Mundial da Saúde, porém, esse número deveria variar de 3% a 5% para garantir um banco de sangue suficiente. "Essa falta é mais grave principalmente nas férias e em feriados, como no ano-novo e no Natal", relata Jorge. "Isso porque, nessas épocas, as pessoas estão atentas a outras questões, como comprar presentes e viajar, e se esquecem de colaborar. Para agravar, são os períodos em que há mais acidentes nas ruas e transfusões nos hospitais." O médico destaca que, por causa desse problema, cirurgias têm de ser adiadas e pessoas ficam mais tempo internadas em UTIs. Isso quando não falta sangue em casos mais graves, que levam à morte do paciente.

Todos os meses, a Pró-Sangue coleta 12 mil bolsas que são distribuídas para 128 hospitais paulistas. Para saber como colaborar, ligue para 0800-55-0300 ou agende a doação pelo site www.prosangue.sp.gov.br.



SEU CACHORRO PODE SALVAR VIDAS

Os cães também precisam de doações de sangue. "Animais são atropelados, têm hemorragias e passam por cirurgias e transfusões", explica a veterinária Simone Gonçalves, dona do Hemovet (www.hemovet.com.br), um hemocentro no Parque São Lucas, próximo à Mooca, que coleta bolsas de sangue de cachorro. "Como poucos têm noção disso, muitos cães morrem."

Só cachorros de grande porte, com ao menos 27 kg, podem doar. O bicho ainda deve ser adulto e estar saudável (ele passa por exames antes). Até 450 mililitros podem ser sugados do animal todos os meses. Para transformar seu cão em doador, basta agendar a retirada do sangue no Hemovet pelo telefone 2918-8050. Há outros postos de coleta, como o Hospital Veterinário Sena Madureira (www.senamadureira.com), na Vila Mariana.
(Fonte: O Estado de São Paulo, 03/01/2010)

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